terça-feira, 12 de outubro de 2010

Guerra do esfregão




Há batalhas que são absolutamente épicas e ficam no imaginário colectivo como marcos importantes: o desembarque na Normandia no Dia D, a derrota de Napoleão em Waterloo, Aljubarrota para os portugueses, ou a Guerra do Esfregão em casa dos meus pais.

Vejo já alguns sobrolhos franzidos ao peso de dois argumentos: um é que não conhecem a casa dos meus pais e portanto a ideia não pertence ao imaginário colectivo e, para mais, é que me o último item da lista não é uma batalha, é uma guerra.

Em boa verdade eu vos respondo que, uma vez eu vos descreva a cena, qualquer um de vós irá recordar-se de outra semelhante tirada a papel químico, logo há um imaginário colectivo de uma mesma situação distribuída por episódios diferentes. A segunda é que a Guerra do Esfregão é uma sucessão de batalhas em tudo muito semelhantes sem fim à vista.

Começa assim: a cada Domingo após o almoço, mãe e filha entram numa acesa querela sobre quem vai lavar a loiça, nomeadamente a tostada e gordurosa assadeira onde minutos antes o lombo de porco repousava num leito de batatas.

Rationale:

- A mãe insiste em lavar a loiça porque mãe é mãe e tem que ser super-mãe;

- A filha quer aliviar a mãe desse trabalho extra porque esta faz saber amiúde que trabalha demais e anda exausta;

- A mãe não deixa porque a maneira de demonstrar que gosta muito e muito de todos e gosta mais do que ninguém é matando-se de trabalho;

- A filha reinvindica lavar a loiça porque lá no fundo sabe que a mãe vai cobrar essa exaustão em queixas e injecções de sentimentos de culpa;

- etc...

E a discussão vai subindo de tom até que alguém toma conta do esfregão... nesse dia. Depois repete-se. A Guerra do Esfregão nunca vê um armistício assinado. Sobem as vozes, sobe a tensão, sobe a exaustão, sobem os nervos a toda a gente... para uma discussão circense de resultado prático perfeitamente estéril. Na semana seguinte repete-se.

Claro que seira muito mais útil, prático, calmo e abrangente distribuir essa tarefa todas as semanas a uma pessoa diferente (eu incluído). Mas isso já não permitiria "provar" quem gosta mais de quem, não é? Se é para isso, eu recuso-me a participar do espetáculo.

Há coisas irritantes e que me deixam os nervos em franja, e esta é uma delas.

10 comentários:

Doce Cozinha disse...

Precisa-se de máquina de lavar urgentemente!

R. disse...

@Caia:

Já existe, amiga.
Mas a assadeira e o panelão não cabem lá dentro... :)

R.

Anónimo disse...

Menino, não me lembro de uma situação dessas na minha vida! Minha mãe sempre odiou uma cozinha. :D
Quanto a mim, arranjei uma máquina maravilhosa e, as assadeiras, descobri que papel aluminio é uma das invenções mais maravilhosamente maravilhosas contra crostas de gordura que ficam nas assadeiras - e joga-se fora! :D
Minhas futuras noras tem uma soooorte...

beijinhos

R. disse...

@Mirian Martin:

Hajam boas ideias! :)

R.

Daniel C.da Silva disse...

As minudências do quotidiano... tão fora da prosa dos dias ;)

Um gd abraço :)

Marina disse...

Lá em casa, não sendo com a assadeira e o panelão, o filme desenrola-se num enredo semelhante.
E também há máquina de lavar...

Beijinhos e boa semana!
M.

R. disse...

@Daniel Silva:

É, não é? :)

R.

R. disse...

@Marina:

Eu não disse que isto estava no imaginário colectivo? ;)

R.

Erika Freitas disse...

Bem, lá em casa a situação é invertida. O motivo da guerra é porque ninguém quer lavar a louça. Mas afazeres domésticos sempre levam à discussão.

R. disse...

@Erika:

Assim também funciona! Rsrsrsr...

:)

R.