segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Eu dou cartão vermelho




Bateram com força na porta do castelo. Por cima das ameias espreitei quem me chamava: era A Senhora lá do Caldeirão trazendo um joguinho. Óptimo! Eu cá gosto é de novelos de fio, sestas num tapete batido pelo sol e de quem venha brincar comigo.


Regras:


"Cada um deve fazer uma listinha com 10 escolhidos para dar o cartão vermelho. Pode ser uma pessoa, uma atitude, enfim, tudo aquilo que de alguma forma nos incomoda, se quiser e precisar, dê uma justificativa breve. Após fazer isso, passe a bola para mais cinco blogueiros e vamos ver no que dá..."


Ora aqui vai, de maneira despreocupada e sem ordem especial.




Eu dou cartão vermelho...


1 - ... a mim mesmo nos dias de mau humor. Como se resolvesse alguma coisa...


2 - ... à programação da TV. Um televisor é um razoável hino ao engenho do Homem. A programação é um razoável insulto à inteligência da humanidade.


3 - ... aos clubismos & fanatismos, entediantes e atávicos dos próprios e dos que os rodeiam.


4 - ... às mulheres que só falam de carteiras e aos homens que só falam de futebol: muito parecidos no final de contas...


5 - ... às máquinas com vontade própria que fazem o que lhes apetece e não o que eu lhes mando.


6 - ... aos passarinhos nos meus terraços. Eles nas árvores são tão mais bonitos... e limpos!


7 - ... às músicas sem harmonia, sem melodia e de letra pobre, apresentando como único argumento uma mulher bonita a rebolar-se no videoclip - porque lhe chamam música, afinal?


8 - ... às pessoas que insistem em retorcer o significado das frases, colocando sentidos nas entrelinhas que elas jamais tiveram.


9 - ... à "Roda dos Alimentos", por a maior porção não ser ocupada por chocolate.


10 - ... às pessoas de quem gosto e que estão longe de mim. Quero-vos aqui, e já! :)




Árbitros nomeados para as próximas jornadas :







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Aviso 1: Sim, a lista das coisas que levam cartão vermelho é propositadamente leve, sem lamúrias, sem ideias políticas ou grandes causas. Não quer dizer que eu não as tenha. Não é o propósito deste blog, simplesmente. Vontade não faltou.
Aviso 2: Árbitros nomeados sem ordem especial, seleccionados da minha lista de blogues seguidos sem outro critério que não o de evitar pessoas já visadas.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Imagem

Gente que domina estas modernices dos blogues, preciso do vosso sábio e avisado conselho neste problema que, sem me tirar o sono, ainda assim me intriga.

Olhai por momentos para a vossa direita. Não, não tanto! Olhai para a vossa direita mas ainda dentro da área do monitor. Admirai a bela e elegante silhueta felina recortada em preto sobre vibrante fundo laranja. Marcante, não é? "Sublime", admitis sem vergonha e com galhardia.

Agora explicai-me: porque é que, ao invés do inestimável "Gato Preto Sobre Fundo Laranja" (s/d), aparece o cinzentão e anónimo macaco indiferenciado (vide figura abaixo) nos blogs que eu sigo?


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

GPS



Afivelou o cinto, dando-lhe um pequeno esticão para se ajustar ao banco. Uma voz sintetizada indicou:
-- Siga-em-frente-por---duzentos---metros---e-depois-vire-à---direita.
Assim, mesmo com esta cadência.
Com dois dedos da mão engrenou a primeira mudança e o carro cinza-escuro deixou para trás o lugar de estacionamento, ganhando velocidade.
-- A---cinquenta---metros---vire-à---direita.
-- Vire-à---direita - repetiu a voz feminina.
Reduziu para segunda e, com um golpe rápido da mão esquerda, descreveu a curva apertada. Encontrava-se agora numa estrada mais larga, com duas faixas.
-- Mantenha-se-à-direita.
Assim fez.
-- Na-rotunda---siga-em---frente------terceira---saída.
-- Siga-em---frente------terceira---saída – tornou a ouvir.
Obedeceu.
Num lampejo feito de humor corrosivo e de burlesco estereotipado riu entre dentes e concluiu para si:
-- Basta uma voz feminina e qualquer homem transforma-se num pau-mandado.
Imagem retirada daqui.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Amanhã



O despertador tocou, materializando no quarto o som de uma rádio local. Pela frincha dos olhos sonolentos viu as horas enquanto estendia o braço para calar o aparelho por uns minutos: eram 6h15. A janela dava testemunho que, lá fora, a escuridão ainda reinava nesta manhã fria de Outono.

Devagarinho, volveu-se para junto da sua mulher que dormia a seu lado, de costas para si, enconchando-a no seu corpo com cuidado. Sentia o calor das costas dela contra o seu peito, das coxas dela contra as suas, cadenciou a sua respiração pela da mulher. Pousou-lhe um beijo inaudível no ombro coberto pelo pijama e disse-lhe em sotto voce:

-- Já são horas.

Um ligeiro estremecimento deu-lhe a entender que ela o tinha percebido. Ele fez-lhe uma festa no braço direito, deixando depois a mão escorregar até encontrar a mão dela que apertou com suavidade. Ali se deixou estar mais uns minutos, no calor dos cobertores, envolvendo-a neste abraço.


O despertador, esse, não estava para tréguas ou mimos e, ao cabo de uns poucos e contados minutos de sossego, repetiu o seu apelo.


-- Tens que levantar, Formiguinha - murmurou, acompanhando as palavras com algumas palmadinhas na perna, leves e rápidas.


Ela inspirou fundo e expeliu o ar num suspiro longo, longo como a preguiça que tinha, longo como a vontade de dormir mais um pouco. Ergueu-se, porém, desembaraçando-se dele num repente e dirigindo-se para o interior da casa escura.


Ele ali ficou mais um pouco, protelando enfrentar aquele dia húmido de Outubro. A mulher entrava cedo ao trabalho, e ao volante ainda tomava uma hora bem medida de caminho. Nesse aspecto ele tinha bem mais sorte, pensou.


Todavia, levantou-se ao ouvir os fios de água caindo abundantemente na banheira de esmalte branco. Era a sua deixa de todos os dias, o seu outro despertador. Estava frio. Guardou as almofadas e num ápice fez a cama ainda há pouco ocupada.


-- Até ao meio-dia não deve ter tempo de comer mais nada... - calculou, aviando um bom pão com queijo e duas canecas de leite com café.


O esquentador silvava pela queima constante do gás. Conhecia bem como ela gostava do duche longo e de água bem quente. Estava a fazer-se tarde, porém. Passado uns minutos finalmente a água calou-se nos canos. Já não se deve demorar muito, estimou, e, com efeito, ela chegou pouco depois à cozinha com uns jeans e a camisola fofa e azul que tinha recebido no último aniversário.


-- Estou atrasada! Não tenho tempo!, não tenho tempo! - exclamou, tentando sorver o leite com café em golos largos.


-- Tem cuidado na estrada... - entregando-lhe o pão já embrulhado num guardanapo que a mulher guardou na mala dos papéis.


Tentou despedir-se da mulher com um breve abraço. Com ligeireza, ela evitou os seus braços, despedindo-se com um fugaz beijo na face e saindo velozmente pela porta sem olhar para trás.


Pegou na caneca aos quadrados e levou-a aos lábios, bebendo lentamente o leite com café ainda morno, fixando no olhar o dia que raiava pela janela.


-- Amanhã será um novo dia e talvez, quem sabe!, talvez seja diferente...
Imagem retirada daqui.

domingo, 23 de agosto de 2009

Festa na Aldeia



Com o corpo estendido sobre a cama, na penumbra do quarto, procurava escapar à abafada tarde de Agosto que lá fora incitava o mercúrio a saltar dos termómetros. Pelas frinchas da veneziana chegavam-lhe assim coados a luz da tarde e o repique dos sinos num contínuo.


-- A Sonata das Três Notas!... - assim baptizou num resmungo a paupérrima melodia num misto de aborrecimento e mordacidade.


No Minho, em Agosto, é inevitável a festa popular todos os fins-de-semana, ali ou nalguma freguesia vizinha, e o despique nunca fica por mãos alheias: as gentes ufanam-se disputando o maior tapete de flores ou a maior procissão.


-- Este ano vem um fogueteiro de Darque - vangloriava-se o Baptista da comissão de festas - e só de fogo de artifício são oitenta contos!


Para ela, ao invés de alegria, estas festas traziam-lhe paradoxalmente aborrecimento. Pelo barulho, pelo ruído até altas horas da noite e da salva de tiros às seis da matina, pela disputa vã entre as gentes vendo quem enfeita melhor o andor, pelo orgulho boçal do Baptista sobre a quantia despendida, pelo jeito que fariam aqueles oitenta contos distribuídos pela viúva do Pardelhas com três filhos e mais um a caminho ou pelo Ti Zé da Fonte, homem de muito trabalho mas a quem a vida sempre castigou.


Mas, para além disto, os sons da festa despertavam no seu peito angústia. Inexplicável, irracional, mas certamente angústia.


O toque incessante dos sinos trazia-lhe à ideia aflições, o badalar repetido de um funeral ou do toque a rebate por causa de um fogo ou uma guerra. Aquela "Sonata das Três Notas" em contínuo trazia-lhe esse sentimento misto de tristeza e aflição e torturava-a a cada volta, uma e outra vez, seculo seculorum. Desejava que se calassem de vez ou, pelo menos, que se limitassem a tocar as horas e as meias como de hábito e preceito.


Esta perturbação, que tentava espantar a custo, mantinha-a imóvel no quarto. Logo a ela!, mulher de trabalho e desembaraço, a quem faz confusão estar quieta. Logo a ela!, que nada a atrapalha, e ao fim e ao cabo uma festa de aldeia prega-lhe um desarranjo de nervos como não lembra. Ele há coisas que uma pessoa não entende...


Ao menos se ainda fossem só os sinos... Mas não! O rufar compassado dos bombos e tambores da procissão dava continuidade à angústia na sua toada marcial. Aquela coluna humana, movendo-se a toque de caixa pelas ruas, evocava um exército e, mais uma vez, a guerra. Nunca conhecera a guerra, porém.


-- Nunca!, e que Deus seja louvado e assim me conserve! - pensava.


A fanfarra, desta feita vinda de São Gens e com maestro diplomado e tudo, não mitigavam o tom triste do todo. Os músicos, escorrendo bagas de suor sob o sol abrasador do Estio dentro das suas fardas engomadas, esforçavam-se por retirar as notas correctas dos metais de sopro reluzentes. O lento cortejo, de uniformes em azul-marinho e branco, ganhava então ares de exéquias com honras militares.


Nisto matutava, prostrada na cama sobre a manta branca de algodão e a colcha florida dobrada aos pés, quando foi arrancada aos seus pensamentos pelo som de uns passos no soalho, pequeninos e céleres, acompanhados de uma vozinha infantil:


-- Mãe, quero doces! Daqueles bons, da festa!


Acalmou e sorriu ao entusiasmo daqueles olhos brilhantes. Como por magia desapareceram as fardas, os pelotões, as marchas fúnebres e os fogos, calaram-se os tambores, os rufos, as trompas e trompetes, aliviou-se a angústia e o temor dentro do peito, e até a "Sonata das Três Notas" pareceu desvanecer-se no éter.


Doces, pois então. Ela bem sabia de que doces gostavam aqueles cabelos morenos: daqueles polvilhados de côco e recheados com um cubo de marmelada, vendidos pela senhora sorridente de Serradelo.






Imagem: a "Sonata das Três Notas", como já devem ter adivinhado. :)

sábado, 22 de agosto de 2009

Full House


Podia ser póquer, mas não é. Nestes últimos dias de férias tenho tido o Castelo cheio de gente. Tem havido gente, vozes, vida até ao tecto. Por dias deixou de parecer um ermitério para se parecer com uma casa - e eu no maior contentamento. :)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Anúncio

-- Estou sim? - disse, atendendo o telefone como habitualmente, no meu registo barítono.

-- Ah... - disse uma voz atrapalhada e grave do outro lado - Eu estou a ligar por causa do anúncio...

-- Anúncio? Que anúncio?!? - disse, num misto de surpresa e curiosidade.

-- Ah... pois... - ouvi gaguejar - Deixe lá, é engano...

Estranho, pensei. Mas nada que me levasse mais do que quinze segundos de pensamento naquela tarde de Sábado.

Dias depois recebo novo telefonema, com sotaque estrangeiro, variação sobre o mesmo tema.

-- Olhe, eu não coloquei anúncio nenhum. - desfazendo o equívoco.

"Alguém colocou um anúncio no jornal, talvez para vender o carro ou a casa, e o número saiu errado e, por coincidência, o meu", raciocinei.

Pouco tempo depois o telemóvel trauteia a musiquinha habitual avisando a chegada de uma mensagem escrita. Esta sim, foi esclarecedora:

"Boa tarde, tudo bem? Gostava de a conhecer. Quando tem disponibilidade? Cumprimentos"

Ri a bom rir!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Suomi III - Mãos dadas


Sexta feira à noite, esperando o autocarro para regressar a casa. O olhar deteve-se sobre um casal, bem na casa dos cinquenta anos. De mãos dadas, ele e ela.
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Dei por mim reflectindo que há muitos dias não via ninguém de mãos dadas. Isto pode-vos parecer estranho, ou até irrelevante, mas para mim naquela noite em Helsínquia não o foi.
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Os finlandeses são, no geral, simpáticos. Sorriem. Procuram ser prestáveis quando os interpelamos. Oferecem ajuda espontaneamente. Mas não são dados a grandes manifestações de sentimentos. Mantêm uma atitude muito independente, auto-contida e quase esfíngica por vezes. Características dos povos. Os nórdicos costumam dizer que os portugueses são afáveis. Os portugueses dizem de si mesmo que as coisas já não são como eram e que os brasileiros, esses sim, são uns tipos abertos. E por aí vai.
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Passei então a tomar mais atenção às mãos das pessoas com que me cruzava. Todas soltas. Todas distanciadas. Num conjunto de enfarpelados convidados de um casamento reparei numas mãos dadas de forma quase (?) protocolar e onde os rostos denotavam constrangimento e falta de à-vontade.
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Aquele casal de meia idade era diferente. Davam as mãos. A cabeça dela, cansada, encostava-se ao ombro dele e recebia um beijo e um afago no cabelo. Olhavam-se com imensa ternura, trocavam uma festa de vez em quando. Sem medo.
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Este par inspirava tanta ternura e encanto como pena. Porquê pena? Pelo pormenor que até agora vos ocultei: ele e ela estavam bem alcoolizados. E, sem a desinibição do álcool, jamais os seus gestos saltariam para o lado de cá da fachada. A ternura, existiria à mesma nos seus corações, estou certo.

Arte Partilhada


Ontem tive a feliz ideia de visitar esta exposição. Uma belíssima colecção de pintura de autores portugueses em mostra itinerante, pertença do Banco Comercial Português. Dêem o prazer aos vossos olhos de a visitar se tiverem oportunidade. Se não tiverem oportunidade, criem-na. Para os pequerruchos há um livro ilustrado de introdução à pintura criado especialmente para eles acompanharem a exposição.
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É-me difícil escolher uma pintura em especial - se pudesse, bem que tinha trazido para casa pelo menos uma meia dúzia de pranchas debaixo do braço.
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A imagem que vos trouxe ficou-me na retina. Pelo seu conjunto. Pela união. Pela confiança no seu seio. Pelo olhar distante no futuro. Pelo gestos em misto de ternura, tranquilidade e protecção. Pelo xaile que a todos une e por quem o veste. Pelo contraste de uma côr marcante de cada elemento - só a inanimada boneca está a preto-e-branco. Pelo compacto das pessoas sobre um anódino e anónimo fundo branco que cada um pode preencher na sua imaginação como quiser.
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Imagem: José de Almada Negreiros, Família, 1940, gouache e aguarela sobre papel.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Será?

Dizer que se tem uma mão esquerda muito destra é um paradoxo?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Suomi II - Báltico




-- Tragam bikini e calções! Sim, também temos praias na Finlândia!


Imediatamente pensei em comprar uns calções de gola alta e recomendei às meninas que comprassem um pareo de fazenda.


Preconceito meu. A verdade é que, mesmo naquelas latitudes, tive uns bons dias de sol. E, melhor que tudo, ainda dei umas braçadas gostosas no mar, mar esse que estava... quente! Para quem já há uns anos não entrava no Atlântico em Portugal por o achar gelado, nunca pensei que fosse nadar no Báltico.

Pateta

Escondido pelas sombras durante uma dúzia de dias, o Gato regressa com a delicadeza de um hipopótamo numa loja de porcelanas.

Tarefa 1: Moderar comentários.

Resultado: Comentários eliminados ao invés de publicados.

Brilhante. Sinto os bigodes a descaírem...

Gente, desculpem a asneira (em especial a Erika, se bem me lembro a maior parte dos comentários pertencia-lhe).

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Reboque


J. - Traz o teu carro para aqui.

R. - Para quê?

J. - Para rebocar o meu que não funciona.

R. - Não funciona? Mas que lhe aconteceu?

J. - Trouxe-o para aqui para o lavar e agora, sem razão aparente, não pega.

R. - Não pega? Mas lavaste-lhe o motor?

J. - Dei-lhe uma mangueiradazita...


Ah!, estes Colin Chapman da limpeza...

Frisbee


No último Domingo passei boa parte da manhã a jogar "Frisbee" na praia - aquele jogo em que se atira um prato a rodopiar de uns jogadores para outros.

Assim pensei: quando inventaram este jogo na China, durante a dinastia Ming, deve ter dado uma despesa tremenda!!!



(Imagem retirada daqui)