terça-feira, 29 de dezembro de 2009

MasterBlog




E as prendas vão chegando. Até aos Reis são prendas de Natal, não é? :)


Este veio da casa da Teresa e, ao que vejo, o Castelo passa a ter cartão de crédito. Já dá para encomendar chá e biscoitos pela net. Obrigado, Teresa. :)


Todos os bloggers da lista aqui ao lado (sim, aqueles que eu amiúde espiolho) estão convidados a levarem esta prenda.

Condensação




Culpa do vento de sudoeste, quente, quente e húmido, muito húmido.

O vento invadiu o Castelo, soprou por frinchas e chaminés. E humedeceu. Tudo.

Em todo o lado se formou condensação, todo o Castelo está húmido e pegajoso.

A água condensou nas paredes.

A água condensou no chão.

A água condensou no tecto (dando-se ao luxo de até pingar).

A água condensou nos vidros.

A água condensou nos espelhos.

A água condensou nos armários.

A água condensou nos bibelots.

A água condensou no frigorífico.

A água condensou nos ímanes do frigorífico.

A água escorre pelos armários da cozinha.

A água ensopou as partituras deixando o papel mole como tecido.

A água embebeu-se no meu tempo e nos meus afazeres. De falta de entretém não se pode queixar o Gato. E, depois da canseira, quero mais água - num duche bem quente, claro! :)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Um presépio diferente




Trago-vos um presépio pouco convencional. Sim, o gatafunho é meu e, quem olha para ele, não diz que é um presépio. Mas é um presépio sim senhor, e é a minha prenda de Natal para vós.


Antes de mais, os figurinos. Nada de véus, cajados ou cordas cingindo os rins. Nada do habitual. E porque haveria de assim ser? Ao longo dos séculos os pintores sempre vestiram as imagens à moda corrente. Eu, por meu turno, permiti-me vestir esta Sagrada Família de modo a que passem despercebidos no início do Séc XXI. Nada de novo, afinal.


Depois, a disposição dos elementos. O que é feito do Menino ao centro, deitado na manjedoura com José e Maria ajoelhados, mãos erguidas ao céu, em adoração?


Bem, pensemos um pouco e sejamos razoáveis. Como terá sido aquela noite? Uma sarilho, claro! Perdidos num ermo, sozinhos numa gruta nos arredores de Belém, Maria em trabalho de parto e José a acudir-lhe conforme podia. Os homens têm fama de ser umas baratas tontas nestas alturas e provavelmente José não foi excepção, para mais sendo este à data "um assunto de mulheres" de onde os homens ficavam arredados. Se não causasse aflição, teria sido uma comédia ver o pobre e nervoso José nessa noite. Mas lá que se desenvecilhou, isso é certo.


Maria, já sabemos, não era uma mulher qualquer. Tomando como premissa a Imaculada Conceição, já sabemos que era criatura abençoada e digna de uns milagres. Contudo, não consta que o tempo de gravidez tenha sido fácil ou que haja sido presenteada com o parto sem dor e sem sofrimento. É de esperar, pois, que Maria tenha chegado ao fim do episódio dorida, exausta e a precisar de longo e merecido repouso.


Logo, é razoável esperar ver Maria logo de joelhos no chão e tronco ao alto guardando o Menino? Deixem-na descansar, por favor!


Ninguém me tira da ideia que essa longa noite foi de vigília, sim, mas para José, tomando conta de Maria e do filho. E, caso estejam já a corrigir-me o episódio alertando que Jesus não é filho de José, eu de plena convicção vos afirmo que pai é, também*, aquele que ama e que cuida.


Um Feliz Natal para vós, de todo o coração.









(*: "principalmente", apetece-me dizer)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Gatafunho

O meu último gatafunho foi produzido por expressa encomenda da Teresa Santos.

O tema "Natal" era o único requisito exigido ao gatafunhador, que se inspirou também na bonequinha do avatar da Teresa.

Como é notório os gatos padecem de fraca memória (será de comer muito queijo?) visto a boneca desenhada de cor ser substancialmente diferente da do avatar.

Ao gatafunho podem-no encontrar aqui.

Quanto aos agradecimentos, Teresa, agradeço as palavras mas preferia mesmo era que viesses cá tratar das 6 ou 8 camisas que ontem ficaram por passar enquanto rabiscava... ;)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Jogo

O Daniel passou-me este desafio que aceito com muito gosto!


As regras são as seguintes:

1º - Dar um ctrl C + Ctrl V no questionário abaixo

2º - Criar um post em seu blog RESPONDENDO o questionário, mudando todas as respostas de forma que se apliquem somente ao seu gosto, a VOCÊ;

3º - Encaminhar o questionário para pelo menos 5 amigas blogueiras e por fim, me enviar um comentário dizendo que já fez o post e que ESTÁ PARTICIPANDO!!!!

Comentário às regras:
- "Encaminhar [...] 5 amigas blogueiras" dá para perceber que foi escrito por uma mulher, n'é?!?
- Ao que parece o desafio tinha (no pretérito, porque já passou) um sorteio associado.




1) Que horas são? 14h01m

2) Nome? R.

3) Quantidade de velas no seu último bolo de aniversário? 31, aproximando-se perigosamente das 32.

4) Furos nas orelhas? 2, 1 por orelha, conduzem ao tímpano.

5) Tatuagens? Zero. Não gosto.

6) Piercings? Idem.

7) Já foi à África? Já estive a sul do Mondego. Conta?

8) Já ficou bêbado? Não.

9) Já chorou por alguém? Já (e de que maneira!).

10) Já esteve envolvido em algum acidente de carro? Sim, já. Não, não me magoei. Não, tinha 12 anos apenas.

11) Peixe ou carne? Bem cozinhado.

12) Música preferida? Depende do momento.

13) Cerveja ou Champanhe? Chá, pode ser?

14) Metade cheio ou metade vazio? Metade cheio.

15) Lençóis de cama lisos ou estampados? Lavados de fresco.

17) Programa de televisão? Desligada.

18) Filme preferido? Tal como a música preferida...

19) Está ouvindo alguma música agora? Não.

20) Flor(es)? As que me derem e as que eu der.

22) De que pessoa recebeu esse questionário? Do Daniel Silva.

23) Qual o amigo mais distante que você tem? Tenho muitos amigos espalhados por esse planeta azulinho aí, nem sei onde andam todos.

24) O melhor amigo? Este é o tipo de ranking que não sei fazer.

25) Hora de dormir? O ideal seria cedo, mas quase sempre tarde.

26) Quem acha que vai responder esse questionário mais rápido? Não sei.

27) Quantas vezes você deixa tocar o telefone antes de atender? Depende da minha vontade.

28) Qual a figura do seu tapete do rato? É liso, de esponja macia revestido a tecido vermelho.

29) CD preferido? Oh well...

30) Mulher bonita? A que morar no meu coração.

31) Homem bonito? Eu!

32) Pior sentimento do mundo? Ódio.

33) Melhor sentimento do mundo? O amor (já agora, correspondido s.f.f.).

34) O que uma pessoa não pode ter para estar com você/ter sua amizade/companhia? Sapatos. Não gosto nada de pessoas com sapatos. (fim da ironia)

35) O primeiro pensamento que você tem ao acordar? Já?!?

36) Se pudesse ser outra pessoa, quem seria? Ídolos não, obrigado.

38) O que é que você tem debaixo da cama? Pó. Mas limpo-o aos Sábados.

39) Nome da pessoa que talvez não responda ao questionário? Não sei.

40) Aquele que com certeza vai te responder? Não sei.

41) Quem gostaria que te respondesse? Tenho curiosidade nas respostas de toda a gente.

42) Uma frase: "Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos." Santo Agostinho. (OK, é mais do que uma frase...)



Passo o desafio às pessoas de todos os blogs ali à direita. :)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Pente




Claro que em viagem nos esquecemos sempre de alguma coisa para trás. Desta vez foi o pente do cabelo que ficou perdido num hotel.

Se eu não fosse um gato solteirão não havia problema: teria, com toda a certeza, mais uns 20 a 24 artefactos entre pentes e escovas em casa. A verdade é que aquele pente que ficou no hotel era o único que possuía.

Ora, ao sair do duche hoje de manhã (sim, sim, os gatos são asseados!) vi-me entalado entre sair de casa rapidamente para o trabalho e com o pêlo compridão (os afazeres são tantos que me tenho esquecido de visitar o barbeiro) emaranhado como nunca.

Ora, um gato nunca se atrapalha.

Depois de vasculhar a casa, escrivaninha e caixa de ferramentas entre outros, acabei em frente ao espelho a pentear-me com um garfo. Sim, um garfo.

E mais vos digo: antes pentear-me com um garfo do que almoçar com um pente! ;)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Regresso




As viagens têm sempre o condão de me mostrar que tudo normalmente dá certo mesmo quando estão cheias de oportunidades de dar errado. São sempre uma lição em contrariar a ansiedade e os piores receios.


Arranjamos sempre maneira de encontrar o caminho de ida e de volta.


Perdemo-nos em lugares desconhecidos e encontramo-nos de novo.


Não falamos a língua local, mas há sempre um jeito de nos fazermos entender.


Quando estamos atrapalhados pedimos ajuda, e quase sempre as pessoas são simpáticas e ainda mais prestáveis do que o necessário.


Experimentamos comida que nem sabemos o que é, e nem por isso adoecemos (eu experimento tudo!).


Estamos rodeados de hábitos diferentes dos nossos e rapidamente nos moldamos.


Vemos coisas diferentes e dizemos "Olha que bonito!" ou "Está muito bem pensado!".


Uma mala pequena de roupa é suficiente porque na verdade o tempo nunca varia tanto assim nem ninguém entorna um café em cima de nós todos os dias.


Quando voltamos vemos que o mundo por cá não parou de girar lá por termos estados ausentes uns tempos.


Sim, há gente que gosta de nos ver de novo.


Mas, é claro, "sobreviver" a uma viagem não é um feito tão grande assim, especialmente com um cartão VISA no bolso, n'é?!?


;)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Nederland




Como todos os mortais à face desta terra que têm que fazer pela vida, além de já ter bastante lenha para me queimar, ainda arranjaram a que tivesse de ir "apagar mais um fogo". Desta feita estarei boa parte da semana fora na Holanda a partir de segunda-feira. Tempo para turismo não haverá - com muita pena minha. A ver se angario uns trabalhos interessantes por aquelas bandas. E pode ser que os tempos mortos nos voos me permitam elaborar umas coisas interessantes aqui para o "Castelo" que me andam no pensamento sem tempo para serem refinadas. É que a produção anda muito por fraquinha por estas bandas e vocês merecem melhor... Desejem-me sorte! :)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

E aqui? O que é que não encaixa aqui?




-- E aqui? O que é que não encaixa aqui?


Em casa de uma amiga minha que tem um garoto de cinco anos o aparelho de DVD lia um disco da Rua Sésamo . Dos vários jogos educativos para os pequerruchos havia um de reconhecimento de padrões onde lhes colocavam à frente quatro imagens e eles deveriam apontar o "intruso". Na imagem acima (um mero exemplo) temos um gato, um peixe, um pato e um guarda-chuva. Não vos vou insultar dizendo qual é o intruso, ok? A voz off perguntava então:

-- E aqui? O que é que não encaixa aqui?

Ora, aqui há tempos andava eu a comprar camisas de verão. Reparei na etiqueta de duas delas que, internationalization oblige, estava escrita em várias línguas.

Inglês: no ironing
Francês: ne pas plancher
Espanhol: no planchar
Português: engoma fácil

Pergunto eu:

-- E aqui? O que é que não encaixa aqui?





(Daqui retirei as imagens dos animais e daqui a do guarda-chuva)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Batatas para isto

Eu fui para jantar e dar dois dedos de conversa.
Não fui para que a menina se apaixonasse por mim em menos de um estalar de dedos.
Não, não provoquei.
Não, não procurei.
Batatas para isto...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Do interior do Gato

Coisas há sobre as quais tenho dificuldade em falar.

Coisas há sobre as quais tenho dificuldade em escrever.

Coisas minhas, muito minhas. Difíceis de expor.

Ficam sempre nas meias palavras, nas entrelinhas, nas metáforas.

Mesmo que seja aqui no "Castelo", anónimo.

Emergem por vezes correntes de sentimentos que são difíceis de dominar. Emergem em alturas de maior pressão, vêm à tona nas piores alturas possíveis - aquelas em que temos já arrelia bastante sem precisar que a mesma nasça também dentro de nós.

E o cansaço repetido soletra-se desânimo.

Pode ser que um dia alinhave uns parágrafos sobre isto.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ironias blogueiras



Ontem, por piada, fui consultar as estatísticas aqui das visitas ao "Castelo".

No início de Outubro houve dois ou três dias muito movimentados que se seguiram a este post ("Gatafunhos de abraços"). Dele consta um gatafunho que (longe eu de imaginar tal coisa!) caiu bem no gosto da comunidade. Já encontrei o meu próprio desenho em toneladas de blogs por aí fora. O número anormalmente grande de visitas atribuo-o às menções que foram sendo feitas em boa parte dos blogues da origem do desenhinho, incluindo citações da mensagem original . Ó para o gatafunho:
No fim de Outubro tive também um dia em que o número de visitas foi completamente pulverizado, superando o dobro do maior pico até então. Foi o dia deste post ("Reflexão sobre uns vídeos ou aquilo em que a atenção do Gato ferra"). Pico enorme, restrito a um único dia.

Ora, neste caso o fenómeno parece-me claramente diferente do anterior - não me parece que tenham passado palavra de boca em boca (ou de blog em blog) do assunto. Acontece que o post estava "decorado" pela imagem abaixo, imagem essa que aparece (em miniatura) na lista de blogs seguidos em muitos sítios.

Estou em crer que a figura da menina sensual saíndo do televisor atraiu muitos visitantes de outros blogs aqui ao "Castelo". E, para quem de facto leu o post o facto é de suprema, suprema ironia.




Irónico também é eu dar muitíssimo mais valor à palavra escrita, usando a imagem apenas para conferir ligeireza gráfica ao "Castelo" e, ao fim e ao cabo, é a imagem que tem o maior impacto.

Mas, estou certo, os habituées deste tasco não é por causa das imagens que vêm cá tomar chá e bolachas.





segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Um "Olá" rápido e uma pequena prenda




É, dias escuros e todos os gatos ficam pardos, já se sabe. É por isso que não me têm visto por aí. Isso e porque nem todos os gatos são madraços e este anda num corrupio.

Anestesiado demais para eu próprio escrever um post interessante, trago-vos num embrulho catita uma prenda linda para qualquer "blogueiro".

Se querem ver um blog simultaneamente elegante e simples, onde as palavras emanam com uma naturalidade desconcertante do interior de quem escreve, de uma beleza que não precisa de adereços, então passem na Casa da Sisa. :)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Aula de alemão




Munique.

Pela primeira vez deslocava-se ao estrangeiro em trabalho.

Pela primeira vez tinha de fazer uma apresentação pública do seu trabalho perante os pares.

Pela primeira vez tinha de tomar a palavra em inglês e falar perante uma audiência.

E era já amanhã. A última apresentação do último dia do simpósio.

Apesar das quatro estrelas do hotel na elegante Leopoldstrasse, os dedos do desconforto teimavam em não lhe dar paz dentro daquele quarto. Apresentação mais do que revista e descurso ensaiado, só lhe faltava uma boa noite de sono. E sono não tinha.

Suspirou. Sentou-se na margem da cama, sobre a coberta florida de tons escuros e ligou a TV. Não lhe interessava a programação, não dominava uma palavra da língua. O aparelho cinzentão e quadrado cingia-se à vontade de uma máquina de passar o tempo na esperança que o cansaço se sobrepusesse aos nervos.

-- Os programas idiotas do costume...

Passava naquele momento um concurso apalermado para onde os telespectadores deveriam ligar respondendo a uma pergunta básica e assim ganhar alguma coisa. Conseguiu entender uma questão sobre a origem das batatas fritas (os alemães tinham feito o favor de adoptar o francês pommes frites).

Captou um ponto de interesse. Dado o jaez do programa, o número de telefone para onde os telespectadores deveriam ligar era repetido vezes sem fim, com o número escrito em letras amarelas e gigantes no ecrã, brilhando algarismo por algarismo em sincronia com a voz do apresentador que, lentamente e com boa dicção, os ia ditando.

Começou a repetir o número de telefone em simultâneo com o apresentador:

-- 942 536 536 - repetia - Neun vier zwei, füenf drei sechs, füenf drei sechs.

Mais uma pergunta, mais uma vez o número de telefone.

-- Neun vier zwei, füenf drei sechs, füenf drei sechs.

Teve a sensação de estar a assistir a um sucedâneo do Follow me!, programa de ensino de inglês que passava na TV depois da tele-escola quando era garoto, onde um senhor de aspecto muito british, impecavelmente vestido dentro de um fato cinzento e chapéu de côco aparecia no genérico subindo as escadas do Underground londrino.

-- Neun vier zwei, füenf drei sechs, füenf drei sechs.

Este improviso de aula de alemão rapidamente esgotou o seu interesse por amputado de alguns algarismos. O que era feito do um, do sete, do oito ou do zero?

Enfadado, premiu o botão do telecomando. No pantalha seguiam-se agora em catadupa anúncios de linhas eróticas, onde mulheres despidas em poses lânguidas ofereciam dois dedos de conversa ao telefone pago a tarifas absurdas.

-- Boa! - exclamou - Mais números de telefone!

E foi assim, entre olhos de carneirinho mal morto e vozinhas arrastadas que o Gato acabou por aprender também eins, sieben, acht e null.

A apresentação no dia seguinte foi OK, já que perguntam.

Auf Wiedersehen.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Prémio



Se as coisas continuarem assim nesta cadência, arrecado mais prémios que o Manoel de Oliveira. Se virem por aí um Gato de óculos verdes, desconfiem, especialmente se estiver a regressar do blog da Teresa (que me atribuiu este selo).



Ai tenho de falar sobre mim em 5 passos?



a) Eu já ...
... rodopiei, ri, cantei, corri, desafinei, caí, chorei, sorri, mimei, buli, disparei, dormi, toquei, conheci, pintei, vivi, errei, aconteci, acertei, por aí...


b) Eu nunca …
... ajo por má fé. Verdade. Porém, erro muitas vezes.


c) Eu sei ...
... uma pequena parte das coisas que gostava de saber. Dos átomos às galáxias, da minha rua ao mundo, das células às sequóias, das notas às sinfonias, dos pigmentos aos Van Gogh, das letras ao pensamento. São tantas, tantas, tantas as coisas que desejo saber... :)


d) Eu quero...
... um café. No imediato é um café que eu quero (preciso?).


e) Eu sonho …
... acordado. Sonho mais acordado do que a dormir. Sonho que o dia de amanhã será melhor do que o de ontem. Para todos nós.




Caros donos dos blogs da lista à vossa direita, façam o favor de levar este selo como vosso. :)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Tacto e coordenação




Há alguns anos, tantos que é quase precisa uma terceira mão completa para os contar a todos, o Gato teve aulas de condução. Ao volante do já então velho Fiat e acompanhado do pouco paciente instrutor cuja recordação mais forte é a do cheiro do SG Filtro, lá aprendeu a manobrar as latas mecânicas para que estas o levassem onde queria.


De solavancos, esquecimentos, asneiras e roncos despropositados do motor foram as primeiras aulas recheadas. Descrever uma simples curva era um pico de adrenalina numa confusão de gestos entre sinais, volante, espelhos, transmissão, indicações, alavancas, travões, linhas, pedais e o mais que viesse. Qualquer indicação dada com menos de 40 metros de antecedência era um prelúdio para o desastre.


E, com o correr das aulas, o tacto e a coordenação para a tarefa lá se foram aconchegando nos neurónios que, à custa de treino e sinapses com boa faísca, acabaram habituadinhos a manobrar a engenhoca com desembaraço e suavidade.


Assim têm sido as aulas de dança. A rigidez de movimentos, o desatino dos passos e a percepção atabalhoada das instruções vão dando lugar, devagarinho, devagarinho, a gestos que fluem um nadinha melhor no dia seguinte. E também aqui é preciso guiar:


-- O homem é que conduz a dança! - repete o professor - Mulheres, já sabem! Se houver asneira a culpa é sempre sempre deles!


Muitas almas gostariam de ver isto aplicado no alcatrão, desconfio. Valha-nos o comentário da A. no final da aula que, à falta de rapazes suficientes, teve de dançar como se fosse um:


-- É muito complicado ser-se homem!


E foi por hora e meia mal medida, minha amiga. Imagina uma vida... ;)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Prémio


Nas minhas voltas pelo Sair das Palavras, do Daniel Silva, encontrei uma prenda para mim.

Segundo o que vem descrito na mensagem do Daniel, o prémio/selo aplica-se a "blogs que, além da assiduidade das postagens e do esmero com que são feitos, nos provocam a necessidade de reflectir, questionar, aprender e – sobretudo – que instigam almas e mentes à procura de conhecimento e sabedoria."

A mim o elogio parece-me demasiado (e não é falsa modéstia). Contudo, não deixo de agradecer e sorrir pela lembrança.

Dedico este selo a todos os blogs/bloggeiros que figuram no "Saco de Gatos". :)

sábado, 31 de outubro de 2009

Cirurgia




Se viram a imagem já se estão a rir certamente. :)

Aqui há tempos tropecei neste anúncio.

Hoje, iniciei-me nesse métier delicado. A endoscopia revelou o pior. Não havia como evitar: o paciente estava já num estado avançado da doença e foi necessário extrair-lhe um enorme tumor pútrido numa operação de barriga aberta.

O verdadeiro trabalhinho de m... (*suspiro*) sapa.

Mas a máquina de lavar já não atira água fora. :)


(A foto veio daqui).

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Alguém me explica...

... quais são as poupanças de nos sonegar uma hora de luz do sol todas as tardes?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Reflexão sobre uns vídeos ou aquilo em que a atenção do Gato ferra




A imagem ficou na retina, aquela pessoa chamou a atenção. Porquê? O que tinha de especial? Porquê fixar aquela figura em particular e lembrar-se dela de quando em vez?


O Gato passou todo o Sábado trabalhando em casa. O YouTube fez companhia durante boa parte do dia, vídeos uns atrás dos outros para a música entreter durante as tarefas. Cozinhando, arumando, cantando, limpando, dançando, organizando, fazendo teatro. Conhecem o cliché do tipo fazendo da vassoura guitarra ou microfone? É, esses felin... (aham!) tipos existem mesmo...


Ora, se bem que os vídeos do YouTube iam passando essencialmente pela música, a verdade é que um vídeo, por definição, tem imagem animada. E, sabemo-lo bem, nos videoclips, onde a imagem deveria ser o acessório e a música o essencial, estes papéis são o mais das vezes invertidos (e não é de agora). E os produtores de videoclips recheiam-nos de imagens cativantes e que prendem a atenção. Dito de outra forma e sem rodeios: mulheres bonitas.


Sucede, pois, de que além das músicas voando dos altifalantes, pelo ecrã daquele computador na tarde de Sábado desfilaram dezenas de caras lindas, com corpinhos de modelo, roupas ousadíssimas e planos de pormenor sensuais. Coreografias complexas, gestos sedutores em câmara lenta, olhares malandros para as câmaras.


E eis que ao fim do dia, estafado e fazendo a minha ronda pelos blogs, aterro no Caldeirão, e dou com este vídeo.


(Resumo para quem não quiser ver o vídeo: um homem e uma menina tocam um samba a quatro mãos usando uma única guitarra. Pelo meio de uma execução soberba vão fazendo algumas habilidades típicas deste tipo de números.)


A imagem da menina tocando o sambinha ficou-me na cabeça e eu percebi porquê. Revi o vídeo para ter a certeza.


Silhueta de modelo? Não.

Penteado e maquilhagem apurados? Nada.

Decote ousado? Nem vê-lo.

Mini-saia no limite? Nem saia sequer...

Busto de esbugalhar os olhos? Nem para lá.

Gestos provocantes? Népias.

Sorrisos calculados? Nada.


Mas o número do sambinha captado no video amador sem truques e pós-produções mostra o que a aparência não mostra: o riso genuíno de quem está tirando partido do momento, a interpretação cuidada que deixa adivinhar sensibilidade apuradíssima, as mãos que emanam habilidade, a mestria do desempenho que revela muita persistência e estudo pondo de parte o leviano e superficial, e muita muita inteligência capaz de juntar estas características num conjunto coerente.


Bem diferente das mulheres dos outros vídeos todos, na sua imagem simples, quase anódina, blusa branca e camisolinha cinzenta, a menina podia até passar por freira num filme de Domingo à tarde na TV. Mas, se o Gato tivesse que fazer escolha, era quem escolhia para sentar, conversar e ouvir o que tem para dizer. Porque em sensibilidade, habilidade, persistência e inteligência o Gato ferra.
(A imagem veio daqui)

Ainda Saramago

É impossível não partilhar convosco esta tirada da Rosarinho no Farinha Amparo (os sublinhados são meus):

"2. O nosso antipático nobelizado Saramago conseguiu pôr esta merda toda de pernas para o ar e fazer esquecer a causa nacional que foi na semana anterior a luta anti-Maitê Proença, dando uma entrevista onde dizia que a bíblia é um manual de maus costumes e que Deus é um cabrão vingativo e rancoroso. Mais coisa menos coisa. Ora eu fiquei parva para a minha vida com isto tudo, até porque nem sabia que a bíblia tinha sido escrita em Portugal e muito menos que Deus é Português! Pela quantidade de gente ofendida, deve ser. Mas a gente está sempre a aprender, é o que eu digo."

Ri-me com vontade, com muita vontade mesmo. Como recursos de estilo no humor, o cinismo e a ironia são de ir às lágrimas. :)

sábado, 24 de outubro de 2009

Oxalá que chova café

Sim, chova café que eu preciso. :)

Foi uma semana estafante e nem este dia de Sábado escapou. A raridade de mensagens no blog é sintoma disso.

O título desta mensagem não é meu. É desta música que descobri hoje. E, se o título é sugestivo, toda a letra é um encanto. :)





Ojalá que llueva café en el campo
que caiga un aguacero de yuca y té
del cielo una jarita de queso blanco
y al sur una montaña de berro y miel.
oh, oh, oh, oh, oh...ojalá que llueva café

Ojalá que llueva café en el campo
peinar un alto cerro de trigo y mabuey
bajar por la colina de arroz graneado
y continuar el arado con tu querer.
oh, oh, oh, oh, oh...
ojalá el otoño en vez de hojas secas
pintan mi cosecha de pitisa alegre
siembra una llanura de batata y fresas
ojala que llueva café

Oh, ojala que llueva café en el campo
peinar un alto cerro de trigo y mabuey
bajar por la colina de arroz graneado
y continuar el arado con tu querer.
ah, ailaralailala, ailarala, ailaralailala
ojalá que llueva café.

Pa que la realidad no se sufra tanto
ojalá que llueva café en el campo
pa que en villa hidalgo oigan este canto
ojalá que llueva café en el campo
pa que todos los niños canten este canto
ojalá que llueva café en el campo
ojalá que llueva, ojalá que llueva
ojalá que llueva café en el campo

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Confusões


José Saramago afirmou que “a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”.


Saramago confundiu a Bíblia com ‘A Bola’


E é assim que, dando a importância à afirmação que a afirmação merece, uma tirada genial nos arranca a maior gargalhada pelo lado burlesco. :)

sábado, 17 de outubro de 2009

A gatinha dança?



É ponto assente. 15 anos depois vou voltar ao ensino artístico.

Já tenho horário para piano jazz, harmonia e composição.

Irei frequentar também aulas de dança.

Só me falta arranjar cheques e fotografias para as matrículas. Será que aparo os bigodes ou tiro as fotos com o charme rebelde dos três dias?



(A imagem foi feita pelo Gato)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Porto Covo




Hora do almoço. O calor castiga na pequena povoação de Porto Covo. Aqui, tudo é alvo, azul e Alentejo. Procuro uma sombra onde estacionar o carro e encontro-a perto da "Travessa da Alegria". Sorri ao olhar para a placa toponímica. Apraz-me saber que aqui a alegria é servida não em frasquinhos de perfume, não em pequenos pires, mas sim em amplas e generosas travessas. Para mais à hora do almoço.


(Fotografia do Gato).

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Elixir da Eterna Juventude


"-- Tu és caloiro?"
Ri-me até os bigodes pegarem fogo.
É assim que se passam a ferro as rugas de catorze anos. :)
Quem é que, ao ver o título, se lembrou disto e disto? ;)
Imagem tirada daqui.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Banzé




Queriam histórias novinhas e fresquinhas das férias? Também eu queria escrevê-las, mas terão de esperar, quer os vossos olhos quer as minhas mãos.


Encontrei a minha cozinha tomada de assalto por duas forças armadas: exército (formigas) e força aérea (borboletas da batata). Tem sido uma luta desigual - eles são às dezenas e eu sou só um -, mas a batalha de ontem à noite resultou em pesadas baixas das forças invasoras.


Hoje de manhã minei o terreno (formicida). Eu bem sei que a Convenção de Ottawa condena esta prática, bem como a Convenção de Genebra é contra os prisioneiros de guerra e eu tenho feito uns quantos - estão todos dentro do aspirador.


O que vale é que aquelas borboletas são lentas e desajeitadas nas manobras de fuga. Devem ter tirado o brevet nas Novas Oportunidades sem ter ido às aulas...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ao sul




Na próxima semana o Gato não andará por aqui. Vai tirar férias da rotina, do computador, dos lugares e de si. Pegará na escova de dentes, numa muda de roupa e ganhará a estrada.


Se por acaso virem pelo Alentejo um gato com ar de que todo o tempo do mundo lhe pertence, agindo como se a brisa existisse apenas para lhe acariciar os bigodes, guiando um carro velho com o braço esquerdo apoiado na janela aberta, sentado numa pedra saboreando um livro enquanto o sol lhe tisna o rosto ou fazendo gatafunhos numa folha de papel à mesa da esplanada, sou eu. Venham e cumprimentem, falem, tomem um café comigo. Pago eu. :)




Imagem retirada daqui.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Gatafunhos de abraços




Abraço para o Ouriço, da torre de menagem para a toca. Encheu-me de espinhos, o safado, mas o abraço caiu que nem ginjas. É um abraço dos bons, tenho a certeza. E aqui vai a encomenda aviada:


1 - Quem mais gostas de abraçar no presente?
Não há muitas pessoas que possa abraçar no presente. Verdade. O mundo parece funcionar ao contrário, temos mais facilidade em fugir do que abraçar. Mas há pessoas que abraçam e se deixam abraçar incondicionalmente. Sim, não basta abraçar, é preciso deixar-se ser abraçado. Precisa haver verdade e carinho entre quem (se) abraça, mútuo, presente. Mana, toma lá um abraço.

2 - Quem nunca abraçarias?
A quem se recusasse a não deixar entrar nem um pouco de luz no seu coração. Porque, lá está, o abraço tem de partir de parte a parte. Obviamente que isto exclui toda a gente excepto os mais tenazes em serem ruins.

3 - Quem davas tudo para poder abraçar?
Ui, tanta gente. Tanta gente que se gostava de abraçar e não é possível: ou porque estão longe, ou porque não temos confiança, ou porque já partiram, ou porque temos medo de sermos tomados por tolinhos ou abusados, ou... Muita gente tem-me ajudado ultimamente e grande parte deles nem sonha que o fez. Como eu gostava de os abraçar a todos.

4 - A quem davas o teu melhor abraço?
A quem o quisesse mesmo, de verdade. E o merecesse, claro. Isto pressupõe que eu não tenho um único melhor abraço, mas uma fonte de melhores abraços reinventados sempre que possível e necessário. Perfeitamente correcto.

A imagem lá em cima é um gatafunho meu. Um auto-retrato figurado de como o Gato abraça: com dois braços tão grandes tão mas tão grandes, capazes de engolfar o mundo, e um coração que não cabe lá dentro.

Claro que, daqui do Castelo, o abraço segue para toda a gente que por cá vier, sem regatear. Todos! Há aqui uns quantos que vou deixar explícitos pela minha curiosidade:

- ao mfc, já que está sempre a dizer que me compreende muito bem;
- à Senhora, porque não podia faltar, né?!?;
- ao Rabisco, porque anda desaparecido e talvez um abraço o faça voltar;
- ao Daniel, pelo que me faz pensar e reflectir;
- à Marina, que parece andar a precisar de um;
- à uminuto, pelo mesmo motivo.


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Arranhadelas VII

Para não estar quieto, no entretanto publico mais uma Arranhadela. Talvez por o computador estar possesso (vide a anterior mensagem) o som antes dos 8 segundos está estranho. Não liguem.

Um pormenor: até agora as "Arranhadelas" são todas, sem excepção, de músicas cantadas em português. Não foi propositado, mas é um pormenor giro (que, porém, será quebrado qualquer dia).

Ora, português português português... é o fado! Então, para os convivas deste Castelo, aqui fica um fado. Fado sem violão, sem guitarra portuguesa e sem fadista, mas ainda e sempre um fado.





Rua do Capelão (Novo Fado da Severa)
(Frederico de Freitas/ Júlio Dantas)

Ó rua do Capelão
Juncada de rosmaninho
Ó rua do Capelão
Juncada de rosmaninho
Se o meu amor vier cedinho
Eu beijo as pedras do chão
Que ele pisar no caminho.
Se o meu amor vier cedinho
Eu beijo as pedras do chão
Que ele pisar no caminho.

Tenho o destino marcado
Desde a hora em que te vi
Tenho o destino marcado
Desde a hora em que te vi
Ó meu cigano adorado
Viver abraçada ao fado
Morrer abraçada a ti
Ó meu cigano adorado
Viver abraçada ao fado
Morrer abraçada a ti.

Desaparecido

Não, não ando desaparecido pelas sombras.
O meu computador, sim. Isto é, não... quer dizer, mais ou menos!
O meu computador está possesso, bem como possesso está o modem ADSL. Preciso de um padre exorcista, que isto com MacGybers já não bai lá.
Com isto passo a bida a cair do telhado sem rede. Ora, isso impede-me de escreber uma mensagem que seja em condições. Como se não bastasse, saltou do teclado aquela tecla à direita do "c" . Mas como sou do Porto ninguém bai dar pela diferença.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Dicionários




Lá no alto da torre, onde a vista alcança o futuro e a blogosfera se molda, o Gato mantém sempre um dicionário aberto enquanto oferece ao mundo os gatafunhos das suas escritas. Como estamos a falar de um Gato do Séc. XXI, o dicionário é on-line, obviamente.

Entre as necessidades de um blog e o convívio de um colega de trabalho que é engenheiro de signo mas com ascendências obscuras de biólogo e linguista, o Gato tem vindo a prestar mais atenção ao português.

Num inusitado gesto de partilha, raro entre os felinos, aqui vão algumas ofertas (para mim e para vós já que é tudo de borla):

- Infopedia: dicionário de português gratuito da Porto Editora. Contém outros dicionários sob assinatura;

- Priberam: dicionário de português gratuito e sem registo. Contempla as variantes pré- e pós-acordo ortográfico. Ferramentas de tradução de e para português, espanhol inglês e francês aqui.

- Michaelis: com sotaque brasileiro (e que por isso mesmo tem sido precioso para entender alguns dos blogs que sigo) tem dicionário de português e ainda dicionários bilingues de e para espanhol, francês, inglês, alemão e italiano.

Qual é a desculpa agora? :)


Imagem retirada daqui.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Umas e outras vezes




Pobre criatura nervosa, tinha muita necessidade de falar.

Havia sempre uma causa externa, um inimigo, que perturbava aquela paz.

Umas vezes era porque não tinha emprego.

Outras vezes era porque tinha.

Umas vezes eram as resoluções do ministro.

Outras vezes era o sonso do colega da informática.

Umas vezes era a chefe que não sabia mandar.

Outras vezes era uma história da novela.

Umas vezes eram os subordinados insolentes.

Outras vezes eram os subordinados nabos.

Umas vezes era a história da desgraçadinha num best-seller do momento.

Outras vezes era um episódio com a família.

Umas vezes eram as aulas.

Outras vezes era a coordenadora.

Umas vezes era o passado.

Outras vezes era o passado de novo.

Umas vezes era disto.

Outras vezes era daquilo.

E, tratando de obter sempre sempre sempre uma causa externa justificava falar horas a fio sobre o mesmo assunto, requentando os temas uma e outra vez para não se calar. Tudo valia para não beliscar o que realmente incomodava.

É assim que, ironicamente, se consegue construir um muro de silêncio em torno de alguém. Falando, falndo, falando num contínuo.



(Imagem: O Grito, de Edvard Munch).

domingo, 20 de setembro de 2009

Abraço




Marta fechou os olhos e abraçou-o. Longamente, com firmeza, num gesto há muito ansiado, tão ansiado que os seus olhos se marejaram em lágrimas. Sentiu os braços que a envolviam calorosamente, o afago terno da mão dele no seu cabelo, a respiração lenta e pausada de Sérgio contra o seu corpo. Do seu peito sentia emanar um afecto imenso, espesso, que envolvia ambos na vertigem do momento. E sorriu. Sorriu mordendo o lábio, sorriu no calor que a inundava, sorriu na onda de vida que a percorria de alto a baixo.

Expirou lentamente e por fim abriu os olhos. Marta constatou que estava só. Estivera só o tempo todo. Os braços que ainda a envolviam eram os seus, cruzados sobre o peito, mão direita sobre o ombro esquerdo. O afago, quando muito, seria compaixão da brisa que soprava ao entardecer no miradouro sobre a cidade. E engoliu. Engoliu em seco, na saudade do momento.

-- Não se pode dizer que se perdeu aquilo que de facto não se teve - pensou, sabendo que o coração lhe gritava que era mentira.

Apaixonara-se, estava bem de ver. Devagar, bem devagar. À vigésima primeira vista talvez, mas amor à primeira vista sabia que não era consigo. Era exigente, sabia-o bem. Exigia a alma, o sentimento e as ideias em primeiro lugar. Só depois o barro e as sombras. E isso demorava tempo, muito tempo. Tempo para conhecer, tempo para apreciar, tempo para pesar. E, nesse tempo todo, a paixão insinuava-se, devagarinho, pé ante pé, apesar de ser da casa e já conhecer os corredores. Quando se dava por isso, estava já instalada no canapé do ventrículo esquerdo. E mandava, num torvelinho de pensamentos desatinados.

Como se abraça uma alma? Como se afaga um imo? Marta não sabia a resposta, embora desejasse ardentemente fazê-lo, tal como desejava falar com Sérgio quando depois do "Olá" mais nenhuma palavra conseguia atravessar o nó na garganta.



Imagem retirada daqui.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Almoço III



Confirma-se. Perdi o hábito de cozinhar há uns meses a esta parte. Quando agora pego na colher de pau sai asneira. Sempre? Não, sempre não. Se tiver convidados a coisa sai bem. Ontem saiu óptimo, mesmo. A asneira não acontece por falta de veia, mas sim por falta de paciência.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Arranhadelas VI

Esta é uma arranhadela prometida a alguém que costuma passar aqui no Castelo. Tinha compositor marcado com antecedência: Tom Jobim. No entanto está longe de ter ficado como eu queria. Há dias em que parece que nada sai direito. Depois de duas dúzias de tentativas a tentar gravar o meu adorado "Chega de Saudade" e iguais duas dúzias de falhanços, decidi mudar para "Desafinado". A interpretação está descompassada. O YouTube acrescentou-lhe descoordenado. É, há dias assim. :)


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Peso


-- Gato, tu estás bem?

Pisquei os olhos, olhando as letrinhas coloridas sobre o fundo branco na janelinha do Messenger. Mas... porque estaria o N. a fazer-me tal pergunta? É verdade que não o vejo desde o Dezembro, e este ano tem sido particularmente desgastante. Como poderia o N. adivinhar isso a mais de 1000km de distância?

-- Estou - disse, mentindo aquele bocadinho que achamos que não faz mal para que os outros não se preocupem connosco. - Mas porque perguntas isso?

-- Vi as tuas fotos no FaceBook e estás tão magro...

É verdade. Perdi muito peso em meses, cerca de 8 quilos, sem fazer esforço algum para isso. Nota-se a léguas, na cara, na balança, nas roupas. No passado fim-de-semana fui a uma festa de casamento. Ao vestir o fato reparei como este me estava mais largo e como o cinto não tinha furos suficientes para que me ficasse justo.

Desde que me conheço que isto me acontece: o estado de espírito reflecte-se de forma clara no corpo. Ter perdido peso não me faz mal nenhum (pelo contrário!) mas tem sido dura a causa. Espero que passe rapidamente. Ou então que isto seja um sinal divino para comer mais chocolates.

Máquinas


Não gosto propriamente de máquinas, mas entendo-as. É inato. Tenho tendência a perceber rapidamente a sua construção e funcionamento. E, do hábito de pensar às avessas, localizar causas e defeitos de avarias quandos as máquinas fazem greve é comum.

Esta é uma habilidade que não alardeio. É perigoso: o mundo inteiro julga de imediato que lhes podemos resolver aqueles aparelhos avariados lá por casa.

-- Ah!, tu fazes isso num instantinho... - e de borla, acrescentam mentalmente.

Nessa coreografia bastam-me os demoniozinhos electro-mecânicos de minha casa e da família directa que, julgo, se reuném em conluio quando todos estão a dormir, orquestrando tramas emaranhadas para me manterem ocupado o tempo todo.

-- Gato, precisava que me fizesses uma coisa no fim de semana.
Tirando o pó às entrelinhas, isto quer dizer para preparar a mala de ferramentas.

Torradeiras, videogravadores, leitores de DVD, aquecedores, televisores, microondas, canalizações, aparelhagens de som, fechaduras, telecomandos, ventoínhas, ferros de engomar, fogões, gravadores, torneiras, rádios, despertadores, fornos, computadores, instalações eléctricas, termoacumuladores, telefones, ventiladores, picadoras, impressoras, batedeiras, instrumentos musicais, aspiradores, berbequins, portáteis, varinhas mágicas e até automóveis, tudo isto já passou pela minha mão.

Só ainda não dei com danada da fuga da minha máquina de lavar roupa que, tal como voltou a acontecer ontem, verteu alguma água para o chão enquanto lavava as carpetes. Esta sim, é sonsa: se fico a observá-la porta-se bem. Só faz asneiras quando estou longe. Deve ser uma máquina adolescente...

O meu cunhado viu-me a instalar o sistema operativo num computador avariado que consertei usando uma chave de parafusos de dois palmos, um canivete velho, um clip e um pedaço de algodão em rama. Dantes ele julgava que eu era o MacGyver. Agora, está plenamente convencido disso e até já me ofereceu um canivete todo pintas.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Prémio



Lá da Terra do Nunca a Sininho enviou-me um presente: o selo "Seu Blog é Viciante!"
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Hipóteses:
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a) Este selo é um elogio.
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b) Este selo é uma outra forma de dizer "Seu Blog é uma Droga!". Droga vicia, não é? E aquela imagem do cadáver não auspicia muita saúde... E aquelas manchas esbranquiçadas lá ao fundo não é uma cortina de renda coisa nenhuma, é o fumo de qualquer coisa tão viciante quanto ilícita... Eu logo vi...
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Heck!, o meu ego felino prefere a primeira hipótese.
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No entanto, parece que me arranjaram trabalho. Tenho de me comprometer com 3 coisas, parece-me. Ora, se em vez de trabalho me tivessem orientado umas entradas para a Festa do Avante é que tinha sido bom, já que estamos a falar de coisas viciantes que muito bem se controlam lá atrás mais longe do palco. E sempre tinha ido ver os Bandarra.
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Vá:
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1) Espantar o mau humor para longe, meu e dos outros;
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2) Estabelecer metas mais amiúde e cumpri-las;
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3) Gozar mais sonecas nos telhados.
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A quem passo o selo?
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Tenho que eleger 10?
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Tenham lá paciência: é condição sine qua non para eu seguir um blog que este seja viciante. E, portanto, passo o selo para todos os blogs aí da lista ao lado, bem mais do que 10, e saibam que nenhum deles é (isso eu garanto!) uma droga.
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(E desculpem-me lá os hífens, mas aqui o malandro do Blogger insiste em papar as linhas em branco. Devem ser doces...)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

150.000



150.000km completados ontem, indicava o totalizador do painel de instrumentos nos seus algarismos âmbar. O pequeno carrito, sofredor às minhas mãos há mais de dez anos, não esconde a passagem do tempo. No engenho respira saúde, por fora não importa muito - o espelho do dono?

-- Devias trocar de carro - disse-me o D. há dias.

-- Então porquê?

-- Então... pá!, porque sim.

-- Mas este serve-me. - retorqui eu na minha lógica racional - Não me dá problemas, já não vale quase nada, não estou a fim de arranjar uma despesa grande e de suportar a desvalorização...

Podia ter poupado os argumentos. Eu já devia ter aprendido por esta altura que discussões acerca de carros nunca são racionais.

-- Sabes, é que se comprares um carro mais bonito e mais vistoso as garotas olham mais para ti.

Calei-me afogado na profundidade da retórica.

Tive uma vontade repentina de me dirigir ao carrito e fazer-lhe um par de riscos fundos de lés-a-lés, completando a decoração com uma bela mossa na porta do passageiro feita com o joelho direito.

Mais do que ter uma lata velha, urgiu uma necessidade de que fosse ostensivamente uma lata velha. Para que não haja engano.

Mas depois passou-me.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Aniversário




-- Sabes que dia é hoje? - disse ela, enquanto olhava em redor à procura de um pano.


-- Hoje? Hoje é sexta. - respondeu o marido, meio desconfiado, meio surpreso pela pergunta.


-- E que mais? - continuou, limpando o balcão vermelho com cuidado.


-- Então... deixa cá ver... é 12 de Junho... - respondeu o homem de cinquenta e muitos anos, com o pouco cabelo que restava já grisalho, escapando-lhe o alcance da questão.


-- Então o senhor hoje não faz anos de casado?!? - perguntou a mulher, trocista.


Eu não pude deixar de ouvir esta conversa, apesar do esforço em me concentrar no meu café e na leitura do jornal. Aquele homem que tinha ido buscar a mulher no fim do dia de trabalho estava a ficar em apuros, queria-me parecer.


-- 12 de Junho! - exclamou ele - Pois é... Ora deixa cá ver...


Começou a fazer contas de cabeça, revirando os olhos azuis para cima, espetando os dedos da mão esquerda um a um à medida que contabilizava o tempo.


-- Ora... vinte... trinta... trinta e sete anos!


-- Pois, são trinta e sete anos, são. - confirmou ela, enquanto pegava na casaco e na carteira castanha, aprontando-se para sair.


O marido fitou a mulher por uns segundos com os olhos semi-cerrados, abanando a cabeça para cima e para baixo quase imperceptivelmente. Nisto todo o seu rosto abriu-se num sorriso, dos olhos pequeninos e brilhantes ao bigodão farfalhudo.


-- Trinta e sete anos... - disse em voz lenta e sonhadora - Ó mulher! - exclamou com genuína satisfação - parece que foi ontem...


Ela sorriu.


Se aquele homem estava em apuros, esses terminaram naquele momento, estou certo.

domingo, 6 de setembro de 2009

Coisas boas

Habituamo-nos depressa às coisas boas. Depressa demais. Sabem-nos bem, infundem-nos uma alegria enorme quando acontecem. Gostamos, e é com susto que se constata como nos fazem falta. Assim, num ápice, num estalar de dedos. Paira por aqui a estranha sensação de principezinho e raposa em surdina. Batatas para mim.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Bétulas e outras mudanças




Apaixonei-me por uma árvore. Mais uma. Tenho um fraco por plátanos, admiração pelos áceres, e agora uma estranha paixão por bétulas. Se vos causa estranheza estes amores vegetais, a mim não me causa menos. Nunca liguei muito a estas coisas: árvore era árvore, arbusto era arbusto e pássaro era pássaro, sem precisar de designação menos lata. E agora dou por mim de nariz empinado, pelas ruas e parques, querendo saber qual o nome desta árvore, e desta e daquela outra, observando as manchas dos troncos, o formato das copas, os pormenores das folhas. É uma mudança.


Uma pequena mudança, por si só irrelevante até. O estranho é o avolumar de mudanças que vou notando em mim nos últimos meses.


Nunca achei grande graça ao desporto, talvez pela minha grande inépcia (ou será ao contrário?). Ontem peguei em mim, pela primeira vez desde que me conheço, e fui correr depois do trabalho. Correr por correr. Correr pelo gosto de correr. Correr para me sentir vivo correndo. Correr aspirando a maresia, correr admirando a imensidão do mar, correr sentido os salpicos de sal na face. Um feito pessoal, não obviamente pela distância, mas pela atitude. Tenho desafiado os amigos para jogar à bola e ao disco. Tudo isso com a inépcia de sempre, tudo com uma vontade que surge não sei de onde e é nova para mim.


Artes. Artes, eu?!? Eu sempre olhei de soslaio e com desconfiança para isso. Fascinado e dedicado desde cedo à Física e à Matemática, em sólidas teorias e sem lugar a devaneios de opinião pessoal, fiz disso estudo com notável sucesso e depois profissão. Pois agora prego partidas a mim mesmo, conseguindo ficar extático perante um quadro, escrutinando os detalhes, tentando apreender e enquadrar a corrente estilística, admirando as sensações que desperta. Visito museus. Procuro pontes entre artistas, características das épocas e estilos. E até rabisco em folhas de papel de vez em quando. Olho para os prédios, monumentos, igrejas, catedrais. Procuro entendê-los, busco os estilos, preciso de saber a sua história, sigo-lhes os traços, tento datá-los, perco-me nos detalhes da cantaria, fascinam-me os azulejos.


Leio. Muito. Ainda mais do que antes. Leio com cuidado. Releio parágrafos inteiros pelo simples saborear de passagens que gostei, prazenteiro, devagar ou depressa, ao ritmo que me apraz. Miro as frases, admiro as palavras, aprovo a escolha de um verbo ou um adjectivo se me parece que era mesmo aquele que ali fazia falta. Saio correndo por um dicionário que me explique ao certo aquilo que não entendo. Interpreto. Reinterpreto. Procuro sentidos. Leio. Escrevo. Mensagens no blog. Pensamentos. Contos. Devaneios. Passo as ideias a letra de forma, escolho os vocábulos, procuro as metáforas, miro as linhas ao longe e ao perto, apago, corrijo, reescrevo até ficar satisfeito. Eu!, eu que há muito só escrevia relatórios, e-mails e listas de supermercado.


Música. “Ah!, mas isso tu aprendeste e tudo...”. Sim. A chicote. Mau aluno, pouco interessado, estudioso ainda menos. Foi preciso deixar o estudo e deixar passar alguns anos para fazer as pazes com as colcheias. Descobrir novos tons, novas sensações, ir-me libertando do academismo repetitivo das lições, arriscar em tocar notas estranhas e dissonantes até que as harmonias foram surgindo debaixo dos dedos.

Mudanças. Quase nem me conheço. Agradam-me, e gostava de saber de onde vêm e porquê. Podem ficar. E, se não for pedir muito, que regresse também a vontade de trabalhar, já que telas, prédios, livros, bola e fadinhos são bons mas o meu ganha-pão anda descurado e precisa de atenção.
Imagem tirada daqui.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Vazio


Ainda estou para perceber os dias em que acordo e sinto um vazio enorme. Um vazio na cabeça, um vazio nas ideias, um vazio de propósitos, um vazio na alma, um vazio na garganta, um vazio em todo o corpo como se estivesse oco e oco e oco, desprovido de entranhas, sobrando um volume enorme, imenso, demasiado, onde um coração, único ocupante desse espaço, bate com força despropositada, descompassada, numa oscilação maior do que devia, tão ampla que só possível em tão grande vazio, ansiando por qualquer coisa que deseja, por uma palavra que tranquilize, por uma mão que acalme, pelo arrojo de uma ideia, pelo arroubo de um momento, pela paz de um gesto. Faz falta nesses dias alguém por perto.
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Imagem retirada daqui.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Eu dou cartão vermelho




Bateram com força na porta do castelo. Por cima das ameias espreitei quem me chamava: era A Senhora lá do Caldeirão trazendo um joguinho. Óptimo! Eu cá gosto é de novelos de fio, sestas num tapete batido pelo sol e de quem venha brincar comigo.


Regras:


"Cada um deve fazer uma listinha com 10 escolhidos para dar o cartão vermelho. Pode ser uma pessoa, uma atitude, enfim, tudo aquilo que de alguma forma nos incomoda, se quiser e precisar, dê uma justificativa breve. Após fazer isso, passe a bola para mais cinco blogueiros e vamos ver no que dá..."


Ora aqui vai, de maneira despreocupada e sem ordem especial.




Eu dou cartão vermelho...


1 - ... a mim mesmo nos dias de mau humor. Como se resolvesse alguma coisa...


2 - ... à programação da TV. Um televisor é um razoável hino ao engenho do Homem. A programação é um razoável insulto à inteligência da humanidade.


3 - ... aos clubismos & fanatismos, entediantes e atávicos dos próprios e dos que os rodeiam.


4 - ... às mulheres que só falam de carteiras e aos homens que só falam de futebol: muito parecidos no final de contas...


5 - ... às máquinas com vontade própria que fazem o que lhes apetece e não o que eu lhes mando.


6 - ... aos passarinhos nos meus terraços. Eles nas árvores são tão mais bonitos... e limpos!


7 - ... às músicas sem harmonia, sem melodia e de letra pobre, apresentando como único argumento uma mulher bonita a rebolar-se no videoclip - porque lhe chamam música, afinal?


8 - ... às pessoas que insistem em retorcer o significado das frases, colocando sentidos nas entrelinhas que elas jamais tiveram.


9 - ... à "Roda dos Alimentos", por a maior porção não ser ocupada por chocolate.


10 - ... às pessoas de quem gosto e que estão longe de mim. Quero-vos aqui, e já! :)




Árbitros nomeados para as próximas jornadas :







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Aviso 1: Sim, a lista das coisas que levam cartão vermelho é propositadamente leve, sem lamúrias, sem ideias políticas ou grandes causas. Não quer dizer que eu não as tenha. Não é o propósito deste blog, simplesmente. Vontade não faltou.
Aviso 2: Árbitros nomeados sem ordem especial, seleccionados da minha lista de blogues seguidos sem outro critério que não o de evitar pessoas já visadas.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Imagem

Gente que domina estas modernices dos blogues, preciso do vosso sábio e avisado conselho neste problema que, sem me tirar o sono, ainda assim me intriga.

Olhai por momentos para a vossa direita. Não, não tanto! Olhai para a vossa direita mas ainda dentro da área do monitor. Admirai a bela e elegante silhueta felina recortada em preto sobre vibrante fundo laranja. Marcante, não é? "Sublime", admitis sem vergonha e com galhardia.

Agora explicai-me: porque é que, ao invés do inestimável "Gato Preto Sobre Fundo Laranja" (s/d), aparece o cinzentão e anónimo macaco indiferenciado (vide figura abaixo) nos blogs que eu sigo?


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

GPS



Afivelou o cinto, dando-lhe um pequeno esticão para se ajustar ao banco. Uma voz sintetizada indicou:
-- Siga-em-frente-por---duzentos---metros---e-depois-vire-à---direita.
Assim, mesmo com esta cadência.
Com dois dedos da mão engrenou a primeira mudança e o carro cinza-escuro deixou para trás o lugar de estacionamento, ganhando velocidade.
-- A---cinquenta---metros---vire-à---direita.
-- Vire-à---direita - repetiu a voz feminina.
Reduziu para segunda e, com um golpe rápido da mão esquerda, descreveu a curva apertada. Encontrava-se agora numa estrada mais larga, com duas faixas.
-- Mantenha-se-à-direita.
Assim fez.
-- Na-rotunda---siga-em---frente------terceira---saída.
-- Siga-em---frente------terceira---saída – tornou a ouvir.
Obedeceu.
Num lampejo feito de humor corrosivo e de burlesco estereotipado riu entre dentes e concluiu para si:
-- Basta uma voz feminina e qualquer homem transforma-se num pau-mandado.
Imagem retirada daqui.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Amanhã



O despertador tocou, materializando no quarto o som de uma rádio local. Pela frincha dos olhos sonolentos viu as horas enquanto estendia o braço para calar o aparelho por uns minutos: eram 6h15. A janela dava testemunho que, lá fora, a escuridão ainda reinava nesta manhã fria de Outono.

Devagarinho, volveu-se para junto da sua mulher que dormia a seu lado, de costas para si, enconchando-a no seu corpo com cuidado. Sentia o calor das costas dela contra o seu peito, das coxas dela contra as suas, cadenciou a sua respiração pela da mulher. Pousou-lhe um beijo inaudível no ombro coberto pelo pijama e disse-lhe em sotto voce:

-- Já são horas.

Um ligeiro estremecimento deu-lhe a entender que ela o tinha percebido. Ele fez-lhe uma festa no braço direito, deixando depois a mão escorregar até encontrar a mão dela que apertou com suavidade. Ali se deixou estar mais uns minutos, no calor dos cobertores, envolvendo-a neste abraço.


O despertador, esse, não estava para tréguas ou mimos e, ao cabo de uns poucos e contados minutos de sossego, repetiu o seu apelo.


-- Tens que levantar, Formiguinha - murmurou, acompanhando as palavras com algumas palmadinhas na perna, leves e rápidas.


Ela inspirou fundo e expeliu o ar num suspiro longo, longo como a preguiça que tinha, longo como a vontade de dormir mais um pouco. Ergueu-se, porém, desembaraçando-se dele num repente e dirigindo-se para o interior da casa escura.


Ele ali ficou mais um pouco, protelando enfrentar aquele dia húmido de Outubro. A mulher entrava cedo ao trabalho, e ao volante ainda tomava uma hora bem medida de caminho. Nesse aspecto ele tinha bem mais sorte, pensou.


Todavia, levantou-se ao ouvir os fios de água caindo abundantemente na banheira de esmalte branco. Era a sua deixa de todos os dias, o seu outro despertador. Estava frio. Guardou as almofadas e num ápice fez a cama ainda há pouco ocupada.


-- Até ao meio-dia não deve ter tempo de comer mais nada... - calculou, aviando um bom pão com queijo e duas canecas de leite com café.


O esquentador silvava pela queima constante do gás. Conhecia bem como ela gostava do duche longo e de água bem quente. Estava a fazer-se tarde, porém. Passado uns minutos finalmente a água calou-se nos canos. Já não se deve demorar muito, estimou, e, com efeito, ela chegou pouco depois à cozinha com uns jeans e a camisola fofa e azul que tinha recebido no último aniversário.


-- Estou atrasada! Não tenho tempo!, não tenho tempo! - exclamou, tentando sorver o leite com café em golos largos.


-- Tem cuidado na estrada... - entregando-lhe o pão já embrulhado num guardanapo que a mulher guardou na mala dos papéis.


Tentou despedir-se da mulher com um breve abraço. Com ligeireza, ela evitou os seus braços, despedindo-se com um fugaz beijo na face e saindo velozmente pela porta sem olhar para trás.


Pegou na caneca aos quadrados e levou-a aos lábios, bebendo lentamente o leite com café ainda morno, fixando no olhar o dia que raiava pela janela.


-- Amanhã será um novo dia e talvez, quem sabe!, talvez seja diferente...
Imagem retirada daqui.

domingo, 23 de agosto de 2009

Festa na Aldeia



Com o corpo estendido sobre a cama, na penumbra do quarto, procurava escapar à abafada tarde de Agosto que lá fora incitava o mercúrio a saltar dos termómetros. Pelas frinchas da veneziana chegavam-lhe assim coados a luz da tarde e o repique dos sinos num contínuo.


-- A Sonata das Três Notas!... - assim baptizou num resmungo a paupérrima melodia num misto de aborrecimento e mordacidade.


No Minho, em Agosto, é inevitável a festa popular todos os fins-de-semana, ali ou nalguma freguesia vizinha, e o despique nunca fica por mãos alheias: as gentes ufanam-se disputando o maior tapete de flores ou a maior procissão.


-- Este ano vem um fogueteiro de Darque - vangloriava-se o Baptista da comissão de festas - e só de fogo de artifício são oitenta contos!


Para ela, ao invés de alegria, estas festas traziam-lhe paradoxalmente aborrecimento. Pelo barulho, pelo ruído até altas horas da noite e da salva de tiros às seis da matina, pela disputa vã entre as gentes vendo quem enfeita melhor o andor, pelo orgulho boçal do Baptista sobre a quantia despendida, pelo jeito que fariam aqueles oitenta contos distribuídos pela viúva do Pardelhas com três filhos e mais um a caminho ou pelo Ti Zé da Fonte, homem de muito trabalho mas a quem a vida sempre castigou.


Mas, para além disto, os sons da festa despertavam no seu peito angústia. Inexplicável, irracional, mas certamente angústia.


O toque incessante dos sinos trazia-lhe à ideia aflições, o badalar repetido de um funeral ou do toque a rebate por causa de um fogo ou uma guerra. Aquela "Sonata das Três Notas" em contínuo trazia-lhe esse sentimento misto de tristeza e aflição e torturava-a a cada volta, uma e outra vez, seculo seculorum. Desejava que se calassem de vez ou, pelo menos, que se limitassem a tocar as horas e as meias como de hábito e preceito.


Esta perturbação, que tentava espantar a custo, mantinha-a imóvel no quarto. Logo a ela!, mulher de trabalho e desembaraço, a quem faz confusão estar quieta. Logo a ela!, que nada a atrapalha, e ao fim e ao cabo uma festa de aldeia prega-lhe um desarranjo de nervos como não lembra. Ele há coisas que uma pessoa não entende...


Ao menos se ainda fossem só os sinos... Mas não! O rufar compassado dos bombos e tambores da procissão dava continuidade à angústia na sua toada marcial. Aquela coluna humana, movendo-se a toque de caixa pelas ruas, evocava um exército e, mais uma vez, a guerra. Nunca conhecera a guerra, porém.


-- Nunca!, e que Deus seja louvado e assim me conserve! - pensava.


A fanfarra, desta feita vinda de São Gens e com maestro diplomado e tudo, não mitigavam o tom triste do todo. Os músicos, escorrendo bagas de suor sob o sol abrasador do Estio dentro das suas fardas engomadas, esforçavam-se por retirar as notas correctas dos metais de sopro reluzentes. O lento cortejo, de uniformes em azul-marinho e branco, ganhava então ares de exéquias com honras militares.


Nisto matutava, prostrada na cama sobre a manta branca de algodão e a colcha florida dobrada aos pés, quando foi arrancada aos seus pensamentos pelo som de uns passos no soalho, pequeninos e céleres, acompanhados de uma vozinha infantil:


-- Mãe, quero doces! Daqueles bons, da festa!


Acalmou e sorriu ao entusiasmo daqueles olhos brilhantes. Como por magia desapareceram as fardas, os pelotões, as marchas fúnebres e os fogos, calaram-se os tambores, os rufos, as trompas e trompetes, aliviou-se a angústia e o temor dentro do peito, e até a "Sonata das Três Notas" pareceu desvanecer-se no éter.


Doces, pois então. Ela bem sabia de que doces gostavam aqueles cabelos morenos: daqueles polvilhados de côco e recheados com um cubo de marmelada, vendidos pela senhora sorridente de Serradelo.






Imagem: a "Sonata das Três Notas", como já devem ter adivinhado. :)