Escrevo esta mensagem correndo o risco de parecer abelhudo. De tal não tenho intenção (de ser abelhudo, entenda-se). Um abelhudo é uma criatura irritante, que zumbe por onde não é chamada, inoportuna e que apetece escorraçar mesmo ainda antes de aparecer. Não gosto de abelhudos e, por conseguinte, muito menos quero vestir-me de um.
A verdade é que me preocupo. Se calhar preocupo-me com coisas a mais, se calhar preocupo-me com o que não me diz respeito ou que não está ao alcance da minha mão a menos que alguém diga que precisa dela.
A montanha russa pode ser divertida se tirarmos gozo da vertigem numa sucessão de escaladas e vazios no estômago. A corrida tem fim anunciado, muitos desejam mais uma volta de altos-e-baixos em catadupa.
Da montanha russa dos humores nunca ouvi ninguém suspirar de saudades. Preferimos flutuar no topo evitando a tontura da queda, o calafrio do poço sem fundo aparente e do embate no chão. Mas às vezes lá acontece na certeza de que desconhecemos onde termina a viagem.
A montanha russa é de cada um. Cair é normal. Cair não é errado. Pedir ajuda não é vergonha. Levantar(-se) é um gesto nobre e em simultâneo um dever.
Preocupo-me com as tuas quedas. Não posso evitar, nem as quedas nem a preocupação. Posso apenas ajudar a levantar ou a não cair tão rapidamente, a pôr-te de novo sobre os calcanhares, sacudir a areia dos joelhos e ajeitar a gola do casaco.
Não me arrogo nenhum tipo de direito, de preferência ou sapiência. Não pretendo substituir ninguém, não me importa se esta oferta é desinteressante. É uma mão à tua escolha que tem na palma a palavra "amigo" escrita em letras gordas, um par de ouvidos que sabe escutar e uma porta aberta onde podes entrar sempre que quiseres e à hora que te apetecer com a certeza que nunca serás - sabe-lo bem! - abelhuda.
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8 comentários:
BELISSIMO texto. Com um destinatario que, esperemos, o leia.
abraço
@Daniel:
Tu estragas-me de elogios, é o que é. Mas a esmiuçar a alma humana bates-me aos pontos. :)
O destinatário provavelmente leu-o/lê-lo-á. Contudo, mesmo que tal não seja verdade, essas palavras vivem em mim e, de certa forma, isso basta.
DE certa forma isso basta... mas so de certa forma, R., ou mais tarde poderás querer reclamar este presente... por outras palavras: aceita o que tiveres de aceitar sem hipotecar ou adiar o que te faça feliz...
abraço
@Daniel:
Eu aceito o que for aparecendo sem contudo reclamar o direito a qualquer presente. Os presentes recebem-se, não se exigem.
escrevi "presente" no sentido temporal (passado/presente/futuro) e nao de prenda...
@Daniel:
OK, também faz sentido. Mas o presente não o poderei reclamar mais tarde e, se o posso reclamar agora, só a mim mesmo o poderei fazer. :)
Uma mão de oferta nunca é desinteressante. Sobretudo quando tem na palma a palavra 'amigo'. O que pode acontecer é que a queda arraste consigo o entorpecimento que nos paralisa os movimentos. Mas o bom da Montanha Russa é que depois nos chama para mais uma voltinha lá no topo, onde tudo parece mais confortável...
@mf:
Conforto para todos, no corpo e na alma, é o que vos desejo. :)
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