segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Arranhadelas VII

Para não estar quieto, no entretanto publico mais uma Arranhadela. Talvez por o computador estar possesso (vide a anterior mensagem) o som antes dos 8 segundos está estranho. Não liguem.

Um pormenor: até agora as "Arranhadelas" são todas, sem excepção, de músicas cantadas em português. Não foi propositado, mas é um pormenor giro (que, porém, será quebrado qualquer dia).

Ora, português português português... é o fado! Então, para os convivas deste Castelo, aqui fica um fado. Fado sem violão, sem guitarra portuguesa e sem fadista, mas ainda e sempre um fado.





Rua do Capelão (Novo Fado da Severa)
(Frederico de Freitas/ Júlio Dantas)

Ó rua do Capelão
Juncada de rosmaninho
Ó rua do Capelão
Juncada de rosmaninho
Se o meu amor vier cedinho
Eu beijo as pedras do chão
Que ele pisar no caminho.
Se o meu amor vier cedinho
Eu beijo as pedras do chão
Que ele pisar no caminho.

Tenho o destino marcado
Desde a hora em que te vi
Tenho o destino marcado
Desde a hora em que te vi
Ó meu cigano adorado
Viver abraçada ao fado
Morrer abraçada a ti
Ó meu cigano adorado
Viver abraçada ao fado
Morrer abraçada a ti.

Desaparecido

Não, não ando desaparecido pelas sombras.
O meu computador, sim. Isto é, não... quer dizer, mais ou menos!
O meu computador está possesso, bem como possesso está o modem ADSL. Preciso de um padre exorcista, que isto com MacGybers já não bai lá.
Com isto passo a bida a cair do telhado sem rede. Ora, isso impede-me de escreber uma mensagem que seja em condições. Como se não bastasse, saltou do teclado aquela tecla à direita do "c" . Mas como sou do Porto ninguém bai dar pela diferença.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Dicionários




Lá no alto da torre, onde a vista alcança o futuro e a blogosfera se molda, o Gato mantém sempre um dicionário aberto enquanto oferece ao mundo os gatafunhos das suas escritas. Como estamos a falar de um Gato do Séc. XXI, o dicionário é on-line, obviamente.

Entre as necessidades de um blog e o convívio de um colega de trabalho que é engenheiro de signo mas com ascendências obscuras de biólogo e linguista, o Gato tem vindo a prestar mais atenção ao português.

Num inusitado gesto de partilha, raro entre os felinos, aqui vão algumas ofertas (para mim e para vós já que é tudo de borla):

- Infopedia: dicionário de português gratuito da Porto Editora. Contém outros dicionários sob assinatura;

- Priberam: dicionário de português gratuito e sem registo. Contempla as variantes pré- e pós-acordo ortográfico. Ferramentas de tradução de e para português, espanhol inglês e francês aqui.

- Michaelis: com sotaque brasileiro (e que por isso mesmo tem sido precioso para entender alguns dos blogs que sigo) tem dicionário de português e ainda dicionários bilingues de e para espanhol, francês, inglês, alemão e italiano.

Qual é a desculpa agora? :)


Imagem retirada daqui.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Umas e outras vezes




Pobre criatura nervosa, tinha muita necessidade de falar.

Havia sempre uma causa externa, um inimigo, que perturbava aquela paz.

Umas vezes era porque não tinha emprego.

Outras vezes era porque tinha.

Umas vezes eram as resoluções do ministro.

Outras vezes era o sonso do colega da informática.

Umas vezes era a chefe que não sabia mandar.

Outras vezes era uma história da novela.

Umas vezes eram os subordinados insolentes.

Outras vezes eram os subordinados nabos.

Umas vezes era a história da desgraçadinha num best-seller do momento.

Outras vezes era um episódio com a família.

Umas vezes eram as aulas.

Outras vezes era a coordenadora.

Umas vezes era o passado.

Outras vezes era o passado de novo.

Umas vezes era disto.

Outras vezes era daquilo.

E, tratando de obter sempre sempre sempre uma causa externa justificava falar horas a fio sobre o mesmo assunto, requentando os temas uma e outra vez para não se calar. Tudo valia para não beliscar o que realmente incomodava.

É assim que, ironicamente, se consegue construir um muro de silêncio em torno de alguém. Falando, falndo, falando num contínuo.



(Imagem: O Grito, de Edvard Munch).

domingo, 20 de setembro de 2009

Abraço




Marta fechou os olhos e abraçou-o. Longamente, com firmeza, num gesto há muito ansiado, tão ansiado que os seus olhos se marejaram em lágrimas. Sentiu os braços que a envolviam calorosamente, o afago terno da mão dele no seu cabelo, a respiração lenta e pausada de Sérgio contra o seu corpo. Do seu peito sentia emanar um afecto imenso, espesso, que envolvia ambos na vertigem do momento. E sorriu. Sorriu mordendo o lábio, sorriu no calor que a inundava, sorriu na onda de vida que a percorria de alto a baixo.

Expirou lentamente e por fim abriu os olhos. Marta constatou que estava só. Estivera só o tempo todo. Os braços que ainda a envolviam eram os seus, cruzados sobre o peito, mão direita sobre o ombro esquerdo. O afago, quando muito, seria compaixão da brisa que soprava ao entardecer no miradouro sobre a cidade. E engoliu. Engoliu em seco, na saudade do momento.

-- Não se pode dizer que se perdeu aquilo que de facto não se teve - pensou, sabendo que o coração lhe gritava que era mentira.

Apaixonara-se, estava bem de ver. Devagar, bem devagar. À vigésima primeira vista talvez, mas amor à primeira vista sabia que não era consigo. Era exigente, sabia-o bem. Exigia a alma, o sentimento e as ideias em primeiro lugar. Só depois o barro e as sombras. E isso demorava tempo, muito tempo. Tempo para conhecer, tempo para apreciar, tempo para pesar. E, nesse tempo todo, a paixão insinuava-se, devagarinho, pé ante pé, apesar de ser da casa e já conhecer os corredores. Quando se dava por isso, estava já instalada no canapé do ventrículo esquerdo. E mandava, num torvelinho de pensamentos desatinados.

Como se abraça uma alma? Como se afaga um imo? Marta não sabia a resposta, embora desejasse ardentemente fazê-lo, tal como desejava falar com Sérgio quando depois do "Olá" mais nenhuma palavra conseguia atravessar o nó na garganta.



Imagem retirada daqui.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Almoço III



Confirma-se. Perdi o hábito de cozinhar há uns meses a esta parte. Quando agora pego na colher de pau sai asneira. Sempre? Não, sempre não. Se tiver convidados a coisa sai bem. Ontem saiu óptimo, mesmo. A asneira não acontece por falta de veia, mas sim por falta de paciência.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Arranhadelas VI

Esta é uma arranhadela prometida a alguém que costuma passar aqui no Castelo. Tinha compositor marcado com antecedência: Tom Jobim. No entanto está longe de ter ficado como eu queria. Há dias em que parece que nada sai direito. Depois de duas dúzias de tentativas a tentar gravar o meu adorado "Chega de Saudade" e iguais duas dúzias de falhanços, decidi mudar para "Desafinado". A interpretação está descompassada. O YouTube acrescentou-lhe descoordenado. É, há dias assim. :)


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Peso


-- Gato, tu estás bem?

Pisquei os olhos, olhando as letrinhas coloridas sobre o fundo branco na janelinha do Messenger. Mas... porque estaria o N. a fazer-me tal pergunta? É verdade que não o vejo desde o Dezembro, e este ano tem sido particularmente desgastante. Como poderia o N. adivinhar isso a mais de 1000km de distância?

-- Estou - disse, mentindo aquele bocadinho que achamos que não faz mal para que os outros não se preocupem connosco. - Mas porque perguntas isso?

-- Vi as tuas fotos no FaceBook e estás tão magro...

É verdade. Perdi muito peso em meses, cerca de 8 quilos, sem fazer esforço algum para isso. Nota-se a léguas, na cara, na balança, nas roupas. No passado fim-de-semana fui a uma festa de casamento. Ao vestir o fato reparei como este me estava mais largo e como o cinto não tinha furos suficientes para que me ficasse justo.

Desde que me conheço que isto me acontece: o estado de espírito reflecte-se de forma clara no corpo. Ter perdido peso não me faz mal nenhum (pelo contrário!) mas tem sido dura a causa. Espero que passe rapidamente. Ou então que isto seja um sinal divino para comer mais chocolates.

Máquinas


Não gosto propriamente de máquinas, mas entendo-as. É inato. Tenho tendência a perceber rapidamente a sua construção e funcionamento. E, do hábito de pensar às avessas, localizar causas e defeitos de avarias quandos as máquinas fazem greve é comum.

Esta é uma habilidade que não alardeio. É perigoso: o mundo inteiro julga de imediato que lhes podemos resolver aqueles aparelhos avariados lá por casa.

-- Ah!, tu fazes isso num instantinho... - e de borla, acrescentam mentalmente.

Nessa coreografia bastam-me os demoniozinhos electro-mecânicos de minha casa e da família directa que, julgo, se reuném em conluio quando todos estão a dormir, orquestrando tramas emaranhadas para me manterem ocupado o tempo todo.

-- Gato, precisava que me fizesses uma coisa no fim de semana.
Tirando o pó às entrelinhas, isto quer dizer para preparar a mala de ferramentas.

Torradeiras, videogravadores, leitores de DVD, aquecedores, televisores, microondas, canalizações, aparelhagens de som, fechaduras, telecomandos, ventoínhas, ferros de engomar, fogões, gravadores, torneiras, rádios, despertadores, fornos, computadores, instalações eléctricas, termoacumuladores, telefones, ventiladores, picadoras, impressoras, batedeiras, instrumentos musicais, aspiradores, berbequins, portáteis, varinhas mágicas e até automóveis, tudo isto já passou pela minha mão.

Só ainda não dei com danada da fuga da minha máquina de lavar roupa que, tal como voltou a acontecer ontem, verteu alguma água para o chão enquanto lavava as carpetes. Esta sim, é sonsa: se fico a observá-la porta-se bem. Só faz asneiras quando estou longe. Deve ser uma máquina adolescente...

O meu cunhado viu-me a instalar o sistema operativo num computador avariado que consertei usando uma chave de parafusos de dois palmos, um canivete velho, um clip e um pedaço de algodão em rama. Dantes ele julgava que eu era o MacGyver. Agora, está plenamente convencido disso e até já me ofereceu um canivete todo pintas.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Prémio



Lá da Terra do Nunca a Sininho enviou-me um presente: o selo "Seu Blog é Viciante!"
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Hipóteses:
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a) Este selo é um elogio.
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b) Este selo é uma outra forma de dizer "Seu Blog é uma Droga!". Droga vicia, não é? E aquela imagem do cadáver não auspicia muita saúde... E aquelas manchas esbranquiçadas lá ao fundo não é uma cortina de renda coisa nenhuma, é o fumo de qualquer coisa tão viciante quanto ilícita... Eu logo vi...
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Heck!, o meu ego felino prefere a primeira hipótese.
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No entanto, parece que me arranjaram trabalho. Tenho de me comprometer com 3 coisas, parece-me. Ora, se em vez de trabalho me tivessem orientado umas entradas para a Festa do Avante é que tinha sido bom, já que estamos a falar de coisas viciantes que muito bem se controlam lá atrás mais longe do palco. E sempre tinha ido ver os Bandarra.
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Vá:
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1) Espantar o mau humor para longe, meu e dos outros;
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2) Estabelecer metas mais amiúde e cumpri-las;
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3) Gozar mais sonecas nos telhados.
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A quem passo o selo?
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Tenho que eleger 10?
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Tenham lá paciência: é condição sine qua non para eu seguir um blog que este seja viciante. E, portanto, passo o selo para todos os blogs aí da lista ao lado, bem mais do que 10, e saibam que nenhum deles é (isso eu garanto!) uma droga.
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(E desculpem-me lá os hífens, mas aqui o malandro do Blogger insiste em papar as linhas em branco. Devem ser doces...)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

150.000



150.000km completados ontem, indicava o totalizador do painel de instrumentos nos seus algarismos âmbar. O pequeno carrito, sofredor às minhas mãos há mais de dez anos, não esconde a passagem do tempo. No engenho respira saúde, por fora não importa muito - o espelho do dono?

-- Devias trocar de carro - disse-me o D. há dias.

-- Então porquê?

-- Então... pá!, porque sim.

-- Mas este serve-me. - retorqui eu na minha lógica racional - Não me dá problemas, já não vale quase nada, não estou a fim de arranjar uma despesa grande e de suportar a desvalorização...

Podia ter poupado os argumentos. Eu já devia ter aprendido por esta altura que discussões acerca de carros nunca são racionais.

-- Sabes, é que se comprares um carro mais bonito e mais vistoso as garotas olham mais para ti.

Calei-me afogado na profundidade da retórica.

Tive uma vontade repentina de me dirigir ao carrito e fazer-lhe um par de riscos fundos de lés-a-lés, completando a decoração com uma bela mossa na porta do passageiro feita com o joelho direito.

Mais do que ter uma lata velha, urgiu uma necessidade de que fosse ostensivamente uma lata velha. Para que não haja engano.

Mas depois passou-me.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Aniversário




-- Sabes que dia é hoje? - disse ela, enquanto olhava em redor à procura de um pano.


-- Hoje? Hoje é sexta. - respondeu o marido, meio desconfiado, meio surpreso pela pergunta.


-- E que mais? - continuou, limpando o balcão vermelho com cuidado.


-- Então... deixa cá ver... é 12 de Junho... - respondeu o homem de cinquenta e muitos anos, com o pouco cabelo que restava já grisalho, escapando-lhe o alcance da questão.


-- Então o senhor hoje não faz anos de casado?!? - perguntou a mulher, trocista.


Eu não pude deixar de ouvir esta conversa, apesar do esforço em me concentrar no meu café e na leitura do jornal. Aquele homem que tinha ido buscar a mulher no fim do dia de trabalho estava a ficar em apuros, queria-me parecer.


-- 12 de Junho! - exclamou ele - Pois é... Ora deixa cá ver...


Começou a fazer contas de cabeça, revirando os olhos azuis para cima, espetando os dedos da mão esquerda um a um à medida que contabilizava o tempo.


-- Ora... vinte... trinta... trinta e sete anos!


-- Pois, são trinta e sete anos, são. - confirmou ela, enquanto pegava na casaco e na carteira castanha, aprontando-se para sair.


O marido fitou a mulher por uns segundos com os olhos semi-cerrados, abanando a cabeça para cima e para baixo quase imperceptivelmente. Nisto todo o seu rosto abriu-se num sorriso, dos olhos pequeninos e brilhantes ao bigodão farfalhudo.


-- Trinta e sete anos... - disse em voz lenta e sonhadora - Ó mulher! - exclamou com genuína satisfação - parece que foi ontem...


Ela sorriu.


Se aquele homem estava em apuros, esses terminaram naquele momento, estou certo.

domingo, 6 de setembro de 2009

Coisas boas

Habituamo-nos depressa às coisas boas. Depressa demais. Sabem-nos bem, infundem-nos uma alegria enorme quando acontecem. Gostamos, e é com susto que se constata como nos fazem falta. Assim, num ápice, num estalar de dedos. Paira por aqui a estranha sensação de principezinho e raposa em surdina. Batatas para mim.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Bétulas e outras mudanças




Apaixonei-me por uma árvore. Mais uma. Tenho um fraco por plátanos, admiração pelos áceres, e agora uma estranha paixão por bétulas. Se vos causa estranheza estes amores vegetais, a mim não me causa menos. Nunca liguei muito a estas coisas: árvore era árvore, arbusto era arbusto e pássaro era pássaro, sem precisar de designação menos lata. E agora dou por mim de nariz empinado, pelas ruas e parques, querendo saber qual o nome desta árvore, e desta e daquela outra, observando as manchas dos troncos, o formato das copas, os pormenores das folhas. É uma mudança.


Uma pequena mudança, por si só irrelevante até. O estranho é o avolumar de mudanças que vou notando em mim nos últimos meses.


Nunca achei grande graça ao desporto, talvez pela minha grande inépcia (ou será ao contrário?). Ontem peguei em mim, pela primeira vez desde que me conheço, e fui correr depois do trabalho. Correr por correr. Correr pelo gosto de correr. Correr para me sentir vivo correndo. Correr aspirando a maresia, correr admirando a imensidão do mar, correr sentido os salpicos de sal na face. Um feito pessoal, não obviamente pela distância, mas pela atitude. Tenho desafiado os amigos para jogar à bola e ao disco. Tudo isso com a inépcia de sempre, tudo com uma vontade que surge não sei de onde e é nova para mim.


Artes. Artes, eu?!? Eu sempre olhei de soslaio e com desconfiança para isso. Fascinado e dedicado desde cedo à Física e à Matemática, em sólidas teorias e sem lugar a devaneios de opinião pessoal, fiz disso estudo com notável sucesso e depois profissão. Pois agora prego partidas a mim mesmo, conseguindo ficar extático perante um quadro, escrutinando os detalhes, tentando apreender e enquadrar a corrente estilística, admirando as sensações que desperta. Visito museus. Procuro pontes entre artistas, características das épocas e estilos. E até rabisco em folhas de papel de vez em quando. Olho para os prédios, monumentos, igrejas, catedrais. Procuro entendê-los, busco os estilos, preciso de saber a sua história, sigo-lhes os traços, tento datá-los, perco-me nos detalhes da cantaria, fascinam-me os azulejos.


Leio. Muito. Ainda mais do que antes. Leio com cuidado. Releio parágrafos inteiros pelo simples saborear de passagens que gostei, prazenteiro, devagar ou depressa, ao ritmo que me apraz. Miro as frases, admiro as palavras, aprovo a escolha de um verbo ou um adjectivo se me parece que era mesmo aquele que ali fazia falta. Saio correndo por um dicionário que me explique ao certo aquilo que não entendo. Interpreto. Reinterpreto. Procuro sentidos. Leio. Escrevo. Mensagens no blog. Pensamentos. Contos. Devaneios. Passo as ideias a letra de forma, escolho os vocábulos, procuro as metáforas, miro as linhas ao longe e ao perto, apago, corrijo, reescrevo até ficar satisfeito. Eu!, eu que há muito só escrevia relatórios, e-mails e listas de supermercado.


Música. “Ah!, mas isso tu aprendeste e tudo...”. Sim. A chicote. Mau aluno, pouco interessado, estudioso ainda menos. Foi preciso deixar o estudo e deixar passar alguns anos para fazer as pazes com as colcheias. Descobrir novos tons, novas sensações, ir-me libertando do academismo repetitivo das lições, arriscar em tocar notas estranhas e dissonantes até que as harmonias foram surgindo debaixo dos dedos.

Mudanças. Quase nem me conheço. Agradam-me, e gostava de saber de onde vêm e porquê. Podem ficar. E, se não for pedir muito, que regresse também a vontade de trabalhar, já que telas, prédios, livros, bola e fadinhos são bons mas o meu ganha-pão anda descurado e precisa de atenção.
Imagem tirada daqui.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Vazio


Ainda estou para perceber os dias em que acordo e sinto um vazio enorme. Um vazio na cabeça, um vazio nas ideias, um vazio de propósitos, um vazio na alma, um vazio na garganta, um vazio em todo o corpo como se estivesse oco e oco e oco, desprovido de entranhas, sobrando um volume enorme, imenso, demasiado, onde um coração, único ocupante desse espaço, bate com força despropositada, descompassada, numa oscilação maior do que devia, tão ampla que só possível em tão grande vazio, ansiando por qualquer coisa que deseja, por uma palavra que tranquilize, por uma mão que acalme, pelo arrojo de uma ideia, pelo arroubo de um momento, pela paz de um gesto. Faz falta nesses dias alguém por perto.
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Imagem retirada daqui.